quinta-feira, 10 de junho de 2010

AMAR É...

Amar... difícil definir este verbo. Na minha formatura, fui incumbida de fazer a homenagem “aos que amamos”. Tarefa complicada, já que as definições parecem às vezes serem insuficientes para expressar o que de fato é esse afeto. O dicionário o traz como ter amor, afeição, dedicação, devoção, e existem na verdade, milhares de frases e pensamentos sobre o amor. Porém, me questiono sobre qual delas tem de fato a melhor definição.

Já dizia Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.”

É da ordem do invisível, do meio indescritível, que tem um pouco de sofrível, mas que todos querem dizer que é vivível.
Quando falei sobre o amor, colhi alguns depoimentos de crianças, que me devolveram a ideia. “Amar é quando você sai para comer e oferece suas batatinhas fritas sem esperar que a outra pessoa te ofereça as batatinhas dela". Grande definição. Sabedoria de um garoto de 6 anos.

Amar é dar o que não se tem, a quem não o quer; já dizia Lacan. E o que eu não tenho? Ora, o que eu não tenho, é porque me falta. E falta, é desejo. É o que bota pra funcionar, é o que me faz levantar todos os dias. E eu dou isso, a quem não me pede.

O amor não trabalha sob demanda. Por isso mesmo, a frase “eu te amo” pode ser, muitas vezes retórica. Eu falo porque quero ouvir “eu te amo” de volta. Porém, o amor mesmo, é aquele que se sente, mesmo que o outro não peça. Sem forma de cobrança, de “me diga porque eu preciso ouvir”.

Amar, está para além disso. Está no mais além da retórica, no mais além da demanda. Amar é dar a própria falta, o próprio desejo sem que o outro o peça, ou queira. Talvez, amar esteja pra muito além do que a gente sabe e o que acha que sabe sobre o amor. Estamos acostumados com o “amo porque ele me dá”, “amo porque ela tem”, “amo porque ela é bonita”, “amo poque ele é rico”, “amo porque”, “amo porque”, “amo porque”... Talvez, a sacada fosse: “amo não sei porque, amo não sei porque, amo não sei porque, mas amo.”

E assim, fico com a bela música do Chico: “Tanto Amar”.

“Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita...; Tem um olho sempre a boiar; E outro que agita (...); Se os seus olhos eu for cantar;Um seu olho me atura;E outro olho vai desmanchar;Toda a pintura”.

Amo tanto e de tanto amar, que a beleza se enxerga mais com os olhos fechados do que abertos, além do que o outro queira, além do lugar que o outro convoca, além do que o outro pede. Amo.