quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

QUE TUDO SE REALIZE

Adeus ano velho, feliz ano novo. Que tudo se realize no ano que vai nascer. Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.
Musiquinha quase folclórica, já; no entanto, munida de ótimos desejos. E que o ano comece mesmo, pra valer, com tudo isso.
Muita saúde, porque sem ela, a gente pode ter muito, sem poder usufruir. Vão.
E entra ano, sai ano, a musiquinha nunca sai de moda. É sempre atual. Que tudo se realize no ano que vai nascer. E a gente se pergunta; será que nunca estarei realizado? Será que um dia haverá um ano em que eu não deseje, e que não cante: “que tudo se realize no ano que vai nascer”? Ah, sim... Há de haver algum lugar, um confuso casarão... onde os sonhos serão reais, e a vida... não. Sábio Chico. E nesse dia, a vida... não.
Desejo é sempre desejo de desejo. E é por isso que entra ano e sai ano, “que tudo se realize...”.
Quando a gente encontra aquilo, já é outra coisa. E assim caminha a humanidade, e a pulsão. Dando voltas e contornando os objetos.
Esse ano eu quero um carro. Batalho por ele, conquisto! E ano que vem, eu quero uma casa! Aí, eu quero mudar os móveis, quero casar, eu quero ter um filho, quero ter dois, quero mudar de cidade, quero entrar na faculdade, quero sair, quero reformar a casa, quero adotar, quero separar, quero emagrecer, quero encontrar o par perfeito, quero trocar de carro. De novo.
Dando voltas e realizando. Gozo. Prazer.
Um desejo pode se realizar, nunca se satisfazer.
E que tudo se realize no ano que vai nascer.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

2010

Ano agitado.

No Brasil, uma mulher na Presidência, o fim e o começo de um novo/velho mandato.

De palhaço candidato à candidata que num lapso fabuloso disse que queria defender toda aquela corrupção. Vote em Tiririca, pior que tá, não fica. Talvez ele tenha razão.

Goleiro acusado de matar a namorada / mãe do filho / amante / atriz pornô, ou sei lá o que.

Milagre no Chile. Mineiros são resgatados depois de dois meses soterrados. Viva o imaginário que fez o resgate antes.

Guerra urbana no Rio. Com vitória da polícia. Quem diria? Diria eu, graças a Deus.

Esperança. A integridade nunca vai sair de moda. Honestidade também.

Pense na sua empresa. Você quer alguém que trabalhe roubando? E na sua casa? Alguém que mexa nas suas coisas?

Não. Nem nas amizades, nem nas relações profissionais, nem nas pessoais.

Respeito, honestidade, honra. Pode-se até divulgar que são coisas fora de moda, e a gente até se acostumar com a corrupção, mas princípios são bases que se constroem em casa, com exemplo e consistência.

Base. Não é a toa que a história do Brasil de corrupção e mais corrupção seja tão... acostumada. Como colônia de exploração, cada um foi acostumado a “tirar o seu”, e o resto é que se exploda.

O importante é explorar. Brigar por gabinetes mais luxuosos, mesas feitas com madeira de lei e cadeiras de couro. E as crianças nas filas dos hospitais, esperando atendimento...

No Brasil, se a mulher for estuprada e estiver usando saia no momento do crime, pode ser ela, considerada culpada.

Diferente da Suécia, que transar sem camisinha, pode ser considerado crime.

De um extremo ao outro. Um extremo ao outro.

Não pode, pode... Não, não pode, nenhuma vez.

De novo, a integridade não sai de moda. Do dicionário, um ser humano íntegro não se vende por situações momentâneas, infringindo as normas e leis, prejudicando alguém por um motivo fútil e incoerente. A moral de uma pessoa não tem preço e é indiscutível.

2010, ano intenso. Vitória de “ao menos um”. E se em 2011 houver alguém pra erguer esta bandeira. Vai virar notícia.

Faço votos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A CIDADE DO CRISTO

Sobrancelhas levantadas, olhos arregalados, cabeça projetada para frente. Ouvidos mais atentos, arrepio, atenção exagerada, o coração bate forte, como se pudesse ser escutado; a boca seca, há tremor. Adrenalina a mil.

Medo. Palavra conhecida de quem tem vivido e observado o estado de tensão da cidade maravilhosa. Mas quem durante a história sentiu medo, estava do lado errado; éramos nós.

O pai perdeu a sua função. Cristo está de braços abertos, calado.

Com o crescimento da violência, gera-se mais violência. Não é à toa a máxima: agressividade gera agressividade.

O Estado perdeu seu poder. Não há um Outro que intervenha; que barre. Aliás, o sujeito não é barrado. Pode-se tudo, a prisão é uma “continuidade sem lei” de onde se pode dar ordens, basta ter um celular, e para conseguí-lo, vale enfiá-lo em certos orifícios. E a palavra é dada. Palavra; de merda.

Foi-se acostumando que todos têm um preço. Mas o preço... é branco.

Aonde está o Coronel Nascimento? Alguém que diga: “auto, lá!”?. Que não seja corruptível, que não tenha preço. Que não venda ideais, ou melhor, que pague o preço por eles.

Com a ação do BOPE, parece que alguém tinha que se curvar. E foram os bandidos. Numa sociedade em que não há mais nome-do-pai, nem lei, nem errado, ou melhor, um certo em que se goza por passar por cima; a era do “é ilegal, e daí?”; alguém que desse a cara, olhando pra câmera e dizendo: “nós vamos caçá-los onde estiverem”, vem como uma castração radical; sem manha, sem “se’s”. Que apaziguador, apesar da guerra.

Esses dias escutei sobre esta intervenção, e alguém disse: “as próximas gerações virão, e o tráfico continuará”. Sim, as próximas gerações virão e eu torço pra que nelas existam muitos Coronéis Nascimento ao invés de muitos Mister’s M. M daquela palavra feia, e M de mágica também, que parece fazer o coelhinho branco sumir, de dentro da cartola. Afinal, se a gente apostar que o tráfico não tem fim, estaremos admitindo nossa fraqueza de Gabriela e só nos falta sair cantando: “eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim...”. Pode até ser que ele não tenha fim, mas se conformar com isso e fazer nada a respeito é nomear algo que não pode ser nomeado, é rotular, é engessar. E nada estaria mais engessado do que o Cristo, de braços abertos, mas boca calada.
Bater continência, se curvar diante da autoridade, prestar conta, amarrar os pontos, pontuar. Reverência, silêncio. Silêncio pra se escutar uma voz, que agora, fala.