quinta-feira, 28 de abril de 2011

www.semespaço.com

Adoro a internet. Consultas, dúvidas esclarecidas, novidades, troca de informação.
Tantos resultados com a velocidade de menos 0,034625 segundos. Fantástico.
Hoje, tudo acontece tão rápido que não dá nem tempo de surgir a dúvida. Surgiu até um novo verbo: googlear. Alguém pergunta: “você sabe a velocidade do vôo das andorinhas?” e alguém responde: “dá um Google!”. Simples assim.
É, a vida mudou. No meu tempo de Ensino Fundamental, eu fazia minhas pesquisas nos livros da escola e na coleção linda da Barsa e Mirador que meus pais tinham/tem em casa. Era o meio mais confiável e prático de adquirir informações. De repente.... Mágica. Surgiu a Enciclopédia Digital. Toda aquela coleção imensa, que enfeitava / enfeita a estante, cabia em um CD. Excelente. Passei a fazer minhas consultas então, na enciclopédia digital.
O detalhe é que tanta facilidade e prontidão parecem ter diminuído a dificuldade e aumentado a urgência. A gente pensa nisso, faz aquilo, rápido, rápido, rápido.... e se o computador estragar: caos total e absoluto. Todo técnico em informática escuta essas palavrinhas: “NÃO POSSO FICAR SEM COMPUTADOR!”. Queixa geral de qualquer pessoa que tenha um computador. Com puta dor. Interessante.
Acabou a latência. Aquele período de espera, onde as coisas estão se elaborando, se preparando no simbólico. Os professores pra explicar isso, diziam que latência era o período de tempo que demorava para um dinossauro que teve a calda machucada sentir o estímulo da dor no cérebro. É esse tempo de “meia pausa”, onde há elaboração e preparo.
Todo mundo corre tanto hoje, que exige respostas imediatas, agilidade, rapidez e se não for pedir muito... perfeição.
Se perde alguém da família, tem que “tocar o barco”, se livrar dos pertences da pessoa que se foi, de preferência no dia seguinte ao enterro, se acabou um relacionamento o negócio é engatar outro ou outros, se tá fazendo o curso preparatório precisa ir direto pra universidade, se saiu da universidade precisa estar ganhando horrores, bem empregado. Sem intervalo, semespaço.
Dizem que o mal-estar da nossa civilização, diferente daquele que Freud fala, do homem cindido, onde disse pra Jung em sua viagem de barco: “mal sabem eles, que trazemos a peste”, veio o homem com o antídoto, centrado no Ego, onde tudo isso, essa pressão pra se realizar, realizar, realizar é tida muitas vezes com o nome de auto-estima. “você precisa se valorizar, hein?”. Uma valorização inconsistente muitas vezes, onde somos tomados pelo que nos afronta e criamos ali uma barreira, calo, escudo.
É claro que precisamos nos valorizar. Sempre. Ponto fundamental no narcisismo, impossível investirmos na vida sem investirmos em nós mesmos. Ponto oposto ao da melancolia, onde as forças são esvaídas. Pois diferente daquele mal-estar, o nosso mal estar do século XXI é apontado justamente como o tédio e a solidão. Curioso. Com os sites de relacionamento “bombando”, e a velocidade da informação chegando a 30 MB; tédio.
Semespaço pra olhar dentro de nós, nos enxergarmos faltantes, cindidos. Interessante também como nos endereços cibernéticos, não há espaço entre as palavras. Ficamos semespaço.com .
Saber que a gente pode procurar e procurar e acreditar que existe “ao menos um” que vai me deixar completo ou completa, mas saber que além de toda completude, existe uma hiância, um espaço, que mesmo semespaço, vai continuar espaçado.

3 comentários:

  1. perfeito!!!!e o pior é que, somos levados nesta corrente do imediato, quase à beira do afogamento e, se você sobe até a beira para respirar um instante, logo aparece alguém para te empurrar novamente, onde já se viu, parar??que absurdo....e o efeito é cíclico, nunca para!!!entramos o tempo todo em auto desculpas que tendem a justificar os atos, por exemplo, estudamos, trabalhamos, fazemos cursos de extensão, tudo ao mesmo tempo, porquê, depois podemos diminuir o ritmo..diminuir...só aumenta!!!realmente...sem espaço!

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  2. Corrente do imediato...
    Pra que tanta pressa?

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