domingo, 5 de fevereiro de 2012

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS






Esses dias assisti a este filme, “O segredo dos seus olhos”; que me chamou atenção, entre outras coisas, pelo nome. Poderia me debater aqui sobre o enredo interessante, os atores, a sinopse, a direção. No entanto, vou ficar só no nome, que já dá pano pra manga, e onde já existe segredo o suficiente pra me debater.
O filme conta a história de um assassinato, onde para encontrar o assassino, os investigadores começam uma saga porque tudo levava a entender que este era alguém conhecido da vítima. Em uma foto, tudo é revelado.
A vítima, os colegas, o assassino. E... O segredo dos seus olhos.
O olhar.
E ele não mente.
As palavras, por sua vez, podem estar cheias e recheadas de engodo. “Eu te amo”, “eu te odeio”, “sinto saudade”, “não sinto”. Tudo isso é capaz de passar pela boca de modo mais rápido ou mais lento, entonações, voltinhas, palavras diretas ou indiretas, letra de música, cartas, lembretes, facebook, twitter, e-mails. Mas pode vir recheado de equívoco. No olhar, isso se revela. Não é por aí que se diz que o olhar é o espelho da alma? É lá que existe esse registro. E ele acontece mais rápido do que o “quero mostrar ou esconder”. Ele simplesmente aparece. Não é enganável.
Na relação mamãe-bebê isso se mostra ainda mais claro. Os olhos da mãe vão consentir ou não o lugar que ela dá a essa criança e por onde passa sua via pulsional.
A pulsão invocante, invoca e convoca esse bebê a comparecer, um chamar, que dá a ele um nome, acredite, não aleatório. No entanto, é aliada à pulsão escópica, aquilo que a mãe vê em seu bebê é que vai fazer haver diferença entre a simples demanda e a invocação. Na demanda, o sujeito se encontra numa posição de dependência absoluta em relação ao Outro. A demanda é compreendida como uma exigência absoluta. Ao contrário, o sujeito invocante é retirado dessa dependência, e aqui não se trata mais de uma demanda endereçada a um outro, aí disponível, mas de uma invocação supondo que uma alteridade possa advir, de onde o sujeito, pura possibilidade, seria chamado a tornar-se.
A pulsão escópica, por que via a mãe enxerga este bebê é que vai mostrar inclusive por que janela ele mesmo vai ver o mundo. Ah, espera. O ditado diz que o olhar é o espelho ou a janela da alma? Boa pergunta.
Olhar esse que a mãe lança sobre o bebê, reconhecendo-o ou não. Um alguém perante o louva-deus. O que somos? Seremos devorados logo em seguida? Ou seremos reconhecidos?
Investimento narcísico que a mãe faz nela mesma através do bebê e que este, por sua vez, poderá investir em si mesmo através deste primeiro olhar.
Espera-se sempre de uma mãe que morra de amores pelo filho, que morra por ele, inclusive, literalmente, que fale coisas boas, que diga “eu te amo”; mas uma mãe que não VÊ seu filho como seu tesouro, que não reconhece nele “aquilo que lhe faltava”, uma mãe que não se VÊ no espelho como não-faltante olhando pra aquele serzinho indefeso, passa pelo risco do que esse não-consentimento pode trazer.
Aquilo que a mãe reconhece em seu bebê, a pecinha que faltava do seu quebra-cabeça, seu filhinho-falinho, sua própria imagem narcísica como completa. Essa é a diferença. O segredo dos seus olhos. Espelho esse em que o bebê vai se reconhecer na mãe, e é a janelinha através da qual, ele vai enxergar o mundo.
Na vida, tudo se pode mudar. Pode-se mudar de trabalho, de mulher, de rosto, de religião, até de Deus, mas há algo que não muda. A paixão. Citação do próprio filme. E que faz pensar que mesmo apesar de todos os engodos que as palavras podem trazer, existe algo que se revela pra fora sobre o que se passa dentro. Banda de Moebius.
Paixão, atualização dos circuitos pulsionais. Paixão, pulsão. E é dela que se trata quando uma mãe olha para o seu bebê e revela então, o segredo dos seus olhos.

Um comentário:

  1. Quando os vi (os olhos da Paixão) pela primeira vez, não houve dúvida. Sorrindo, logo se apresentou. Desinibida. Jamais serão esquecidos por mim. Concordo, é verdade, seus olhos são os meus, quando estou apaixonado, espelho da alma em vida.

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