sexta-feira, 10 de junho de 2011

DES-ENCONTRO


Lojas lotadas, programas de televisão, clínicas de estética, books sensuais.
Semana dos namorados.
Paixão.
Namoro = paixão. Pré-namoro = paixão.
Arrepio, taquicardia, necessidade.
Dopamina a mil.
Necessidade. Aumento da pressão arterial, da frequência respiratória, dos batimentos cardíacos, dilatação das pupilas, tremores, falta de apetite, falta de concentração, falta de sono, falta de memória. Falta, falta, falta.
Falta que talvez a gente possa traduzir por desejo.
Desejo - pulsão.
Borda pulsional que foi recortada pela mãe, e que é sentida tão intensamente nesse momento. Necessidade de repetição e repetição de necessidade.
Necessidade.
Dopamina a mil.
Ansiedade, hormônios a flor da pele.
Sensação de completude quando se está com a pessoa.
Completude do que? Da falta.
Ah, a falta!
A falta que a gente tem a sensação que completa.
Dopamina. Neurotransmissor da alegria pra potencializar a sensação de que o amor é lindo.
Os apaixonados ficam corajosos, dispostos a realizar novas tarefas, apesar de se dormir e comer mal. Incongruência.
Aliás, nada mais incongruente que a paixão.
Bem me quer, mal me quer.
Ele ligou? Me quer. Não ligou? Não me atendeu? Não me quer, não me quer.
Lembro um pouco do que Melanie Klein falou sobre o seio bom e o seio mal. Seio bom: me quer; seio mal: não me quer.
Rassial no seu texto belíssimo “Do amor que não seria semblante” ; retoma o dito de Lacan de que o sujeito ama aquele a quem supõe um saber. Coloca a idéia então de que o amor não é um significante, mas um signo com o qual o sujeito muda de discurso.
Imaginarização do simbólico, aquilo que encobre o que o desejo inscreve no sujeito. Encobrir. Esconder e mostrar. Joguinho instigante.
Desejo, pulsão. Algo que pulsa. Pulsação. E quanto maior o incremento da tensão, maior a descarga, maior o prazer.
Bem me quer, mal me quer. Bem me quer, bem me quer, bem me quer; em alto e bom tom. E som.
Mudamos de discurso, de posição subjetiva. E as qualidades do outro... bom... talvez seja tudo uma combinação de véu da alienação + projeção = paixão. É o meu tudo, exceto por aquilo que falta.
Falta.
Pulsão.
Véu da alienação. Joguinho de mostra e esconde. Que encontra, contorna o objeto e deixa cair. Mas que se repete.
Encontro de duas faltas. Uma sobreposta à outra. Em cima, em baixo; tanto faz. Projeção de que se eu fosse o outro, seria exatamente assim. Ah, que bonitinho, encontrar a si mesmo no outro.
Encontrar a si mesmo. Às vezes, pra encontrar a gente precisa se perder, des-encontrar, faltar.
Mas já dizia Vinícius que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.