Tentaram me mandar pra reabilitação, mas eu disse: “não, não, não”...
Dona de uma voz incrível, um rosto belíssimo e um vício terrível.
Amy se foi, aos 27 anos.
Até tentaram mandá-la pra reabilitação, mas ela disse: “não, não, não” ...
Uma das músicas que lhe rendeu um prêmio: “stronger than me”, e não essa mencionada acima, apesar do imenso sucesso e de ser um retrato bem tirado do que se passava de fato
com a vida de Amy. Mais forte que ela. Que alguém deveria ser mais forte que ela. Um pedido de suplência, de nome-do-pai, de barra.
Pedido de um socorro que venha de fora porque estar dentro é difícil demais.
Abster-se do EU, já que esse EU deixa tudo difícil de suportar. Freud já falava disso em “O Mal Estar da Civilização”, o uso de substâncias psicoativas em busca do prazer e/ou do alívio do sofrimento.
Drogas pesadas, casamento com um declarado dependente, estar fora de si. Saída. Sem dúvida
Na toxicomania, a droga é o único objeto para o indivíduo; sem deslocamento, metáfora ou metonímia, pura alienação pra fugir de uma outra. Primordial. Única saída pra uma dor insuportável, promessa de fuga da angústia onde a gente se vê, como objeto.
Back to black, de volta ao luto. Nome de álbum da cantora. Luto que talvez ela não tenha realizado, deixar de ser tudo pro Outro, e tendo que fazer isso no Real; um atentado ao próprio corpo, deixando-o impróprio para o consumo, consumo de um Outro que ameaça devorar, o tempo todo. Tentativa de colocar uma barreira ao gozo do Outro, um meio de conservar, mesmo que minimamente, a própria subjetividade.
‘Daddy’s girl’ (menina do papai) tatuado em um braço e ‘Never clip my wings’ (nunca amarre as minhas asas) no outro.
Então o cara disse: ‘por que você está aqui?
Eu disse: “não faço idéia”
Eu vou, vou perder meu amor
Então eu sempre mantenho uma garrafa por perto’.
Sempre ali, à mão, pro caso da dor.
E quando dói? Dói antes, dói depois. Só não dói durante. Quebra narcísica pós dose, espelho difícil de encarar.
E aí? Aí, dói mais.
Espelho que talvez ela tenha encarado não sem sofrimento com o passar do tempo.
Difícil de encarar, mais um motivo pra cheirar. Algo se disse inclusive sobre a aparência de Amy nos últimos tempos. Células envelhecidas, corpo mais magro e cheio de marcas. Marcas.
“Nós dissemos adeus com palavras
Eu morri uma centena de vezes”;
Talvez se Amy pudesse ter dito com palavras, não precisasse de tanto acting out. E talvez pudesse ter morrido simbolicamente, nascendo e nascendo de novo, quantas vezes fosse preciso, e não no Real, pra não voltar mais.
Fazendo pout porri de substâncias e medley de músicas, cito então a Amy:
And life is like a pipe
And I'm a tiny penny rolling up the walls inside
‘Porque a vida é como um tubo
E eu sou uma minúscula moeda rolando parede adentro’.
I didn't get a lot in class
But I know it don't come in a shot glass
‘Não aprendi muito na escola,
mas sei que as respostas não estão no fundo de um copo’.
Copo, de vinho.
Amy Winehouse. Nome bem sugestivo pra quem não ficou só na primeira taça.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
quarta-feira, 20 de julho de 2011
AMIGO
Amigo é coisa pra se guardar, de baixo de sete chaves, dentro do coração. Palavrinhas eternizadas pelo Milton.
Canções, letra de música, poesia, tema de seriado.
Entrelaçamento de experiências. Identificações. E é dentro desse contexto que a vida... acontece. Cotidiano, ilusões, desilusões, amores, rompimentos, laços, dificuldades. Amizade se faz com palavras, gestos e atitudes, intimidade, liberdade.
Durante muito tempo, pensei que amizade fosse acolhimento. Um ombro pra chorar, um ouvido pra escutar e um afago quando a gente está triste.
Hoje, penso a amizade diferente. Um amigo é aquele que faz tudo isso sim, alguém que a gente pode contar, mas que também pode contar a verdade, e que pode contar a verdade pra gente. Errei? Aponta o meu erro, me fala o que eu nesse momento, não posso enxergar. Me ajuda, me mostra, me orienta. Confiança. Liberdade. Liberdade pra dizer “não gostei”, “você exagerou”,” hoje eu não quero”.
Amigo que mesmo de longe o laço se mantém. Outros que passam tempo sem se falar, mas que quando se falam, se percebe que o tempo que passou foi mero intervalo, pra deixar o show ainda mais gostoso.
Amigo de ir pra balada, de comer cachorro quente depois, de dar risada, de dançar até se acabar, de festa, de soluço, de dor, de ombro.
Bacon já dizia que “não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto”.
Deserto cor de areia, silencioso e frio. Sem dúvida, com amigos esse deserto já virava uma festa, colorida, com balões e fogos de artifício, música, abraço e felicidade. Amigos dão sentido e conforto à nossa vida.
Nos fazem mais forte, nos ajudam a passar pelos vales sombrios que a gente passa de vez em quando, incentivam, nos mostram que a gente deve seguir a diante. Porque a vida é assim, com quedas, tropeços e voltas por cima. Mas a vida, acima de tudo, é feita de relações.
Alguns dizem que “no fundo do poço tem uma mola”, acho que essa mola tem nome: amigos.
E como se constrói uma amizade? Ah, sábio Vinícius... “A gente não faz amigos, reconhece-os”.
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