terça-feira, 31 de agosto de 2010

A DISNEY DA VIDA REAL

A Disney é mágica. Faz você acreditar (pelo menos por algumas horas), que a fantasia é possível. Não é por acaso que o nome do parque principal se chama Reino Mágico e também não é a toa que o logo é: “onde o sonho se torna realidade”. E é verdade. Com fogos de artifício dançando conforme a música, com direito a Pato Donald e Pateta andando pra lá e pra cá, como alguém que está na própria casa (e de fato estão mesmo), é difícil não acreditar que se está vivendo um conto de fadas. Ainda mais quando você encontra a própria Cinderela na carruagem, desfilando, em plena rua. Acho inclusive que os funcionários são mesmo multados se não estiverem sorrindo e acenando para os visitantes o tempo todo. É um tipo de multa por não mostrar a felicidade. Os bonecos e personagens demonstram alegria o tempo todo, sorriem, e fazem você acreditar que aquele é o melhor lugar do mundo para se trabalhar. Se é que se pode chamar de trabalho. Que delícia, poder vender fantasia, acreditar nela e ainda lucrar com ela. Muita cor, muito brilho, um mundo cor-de-rosa; e azul celeste também.
Talvez, a maior função da fantasia, seja fazer a gente acreditar. Acreditar na possibilidade das coisas. Talvez os homens não casem mesmo com a Cinderela, nem as mulheres com o príncipe, mas que a gente possa pelo menos enxergar as qualidades do “uma vez príncipe” de vez em quando.
Toda grande conquista, foi alguma vez considerada impossível. Avanços da tecnologia, por exemplo, quando poderíamos imaginar que seria possível conversar com alguém do outro lado do mundo através de uma tela de computador, e vê-la, em tempo real. Sim, isso já foi impossível, no entanto hoje, é comum, apesar de ter gente que ainda não acredita nisso. Certamente quem nunca acreditou, foi mais certamente ainda incapaz de criar.
Pessoas que julgam os sonhos tão impossíveis, que jamais lutam por eles. Não fazem laço, acreditam que seu empenho não faz diferença, passam pela vida sem atuar e pior ainda, sem achar nenhuma graça. Vão para um lugar diferente achando tudo igual. Tudo tão igual, tão igual, que a vida acaba passando igual mesmo, sem nenhuma diferença e satisfação.
É claro que a gente não se sacia permanentemente com a realização da fantasia, a gente quer logo outra coisa. Afinal, desejo é sempre desejo de desejo; mas que gostoso quando a gente ainda pode ser feliz com algo que queria muito, que a gente ainda se satisfaça com aquela comida que estava com vontade de comer, que possa curtir o lugar onde queria chegar. Seja lá a Disneylândia ou não.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

NÃO BASTA SER PAI

Quase todas as mulheres se preparam precocemente para a função da maternidade. Ganham bonequinhas, mamadeirinhas, roupinhas, chuquinhas. Aprendem a fazer ninar as bonecas, tão, tão bem, que no momento em que a gente pega um bebê de verdade no colo pela primeira vez, aquilo parece ser mais do que natural. Parece instintivo.
Mas o que estou eu aqui falando de ser mãe se o tema da coluna é pai?
Ah, o pai... com tanta simbiose numa relação de tanta espera da mãe com o bebê, (PAI) função pela qual ela esperou desde que se conhece por menina, (PAI) e que ganhou a primeira boneca, (PAI) parece quase impossível haver separação entre essas duas partes (PAI). Simbiose gostosa, (PAI) que parece ser a certeza da reevindicação de todas as faltas sofridas até então (PAI), o ressarcimento do que foi perdido. Mãe e filho estão lá, apaixonados um pelo outro,(PAI). Porém, junção demais tem lá seus problemas (PAI). Pai é aquele que separa, aquele que se coloca no meio, aquele que faz cisão.
Lembro de um livro que comprei que falava da função paterna. Sua capa fazia de três giletes, a cara de um pai. Função de corte, de posicionamento. O pai priva a mãe de seu filhinho-falinho e a convoca pra responder de outro lugar. Convoca a mãe pra que possa satisfazê-la de outra forma e pra que saia dessa redondice em relação ao filhinho.
Discutia esses dias, num grupo sobre os pais bananas. Aquele que não tem autoridade, que deixa tudo, que abre mão do seu desejo, que permite demais. Os bananas que me perdoem, mas firmeza é fundamental. Em todos os sentidos.
Ditado sábio aquele: “não basta ser pai, tem que participar”. Ativamente, diga-se de passagem. Aquele que se importa, que coloca. Sim, coloca.
Pai, aquele que interdita; aquele que põe uma cerquinha ao redor da mãe e diz: “vem cá que agora é a minha vez”. Aquele que deseja a mãe, que mostra pro filho que a mãe é a mulher dele e que se o baby quiser um amor assim, igual àquele, que ele cresça, apareça e busque e forme sua própria família. Ser PAI. Proibir, Amar e Interditar.
Atender a demanda de gozo da mãe. Acalmar o corpo da mãe; isso é o que um pai faz. Se isso não acontece, ela busca satisfação e completude com o filhinho-falinho e as coisas acabam desandando de vez.
Convocar a mãe pra responder como mulher, como desejante. E o que quer a mãe, afinal? O que a mãe quer é o desejo do pai. Que ele compareça; que dê conta do desejo. Com o desejo, ela fica interditada, proibida, o que faz um bem danado para o bebê, porque permite então que ele faça laço com outras pessoas, e não fique aprisionado. Amor que proíbe e que libera.
Não basta ser pai, tem que interditar.