quinta-feira, 5 de agosto de 2010

NÃO BASTA SER PAI

Quase todas as mulheres se preparam precocemente para a função da maternidade. Ganham bonequinhas, mamadeirinhas, roupinhas, chuquinhas. Aprendem a fazer ninar as bonecas, tão, tão bem, que no momento em que a gente pega um bebê de verdade no colo pela primeira vez, aquilo parece ser mais do que natural. Parece instintivo.
Mas o que estou eu aqui falando de ser mãe se o tema da coluna é pai?
Ah, o pai... com tanta simbiose numa relação de tanta espera da mãe com o bebê, (PAI) função pela qual ela esperou desde que se conhece por menina, (PAI) e que ganhou a primeira boneca, (PAI) parece quase impossível haver separação entre essas duas partes (PAI). Simbiose gostosa, (PAI) que parece ser a certeza da reevindicação de todas as faltas sofridas até então (PAI), o ressarcimento do que foi perdido. Mãe e filho estão lá, apaixonados um pelo outro,(PAI). Porém, junção demais tem lá seus problemas (PAI). Pai é aquele que separa, aquele que se coloca no meio, aquele que faz cisão.
Lembro de um livro que comprei que falava da função paterna. Sua capa fazia de três giletes, a cara de um pai. Função de corte, de posicionamento. O pai priva a mãe de seu filhinho-falinho e a convoca pra responder de outro lugar. Convoca a mãe pra que possa satisfazê-la de outra forma e pra que saia dessa redondice em relação ao filhinho.
Discutia esses dias, num grupo sobre os pais bananas. Aquele que não tem autoridade, que deixa tudo, que abre mão do seu desejo, que permite demais. Os bananas que me perdoem, mas firmeza é fundamental. Em todos os sentidos.
Ditado sábio aquele: “não basta ser pai, tem que participar”. Ativamente, diga-se de passagem. Aquele que se importa, que coloca. Sim, coloca.
Pai, aquele que interdita; aquele que põe uma cerquinha ao redor da mãe e diz: “vem cá que agora é a minha vez”. Aquele que deseja a mãe, que mostra pro filho que a mãe é a mulher dele e que se o baby quiser um amor assim, igual àquele, que ele cresça, apareça e busque e forme sua própria família. Ser PAI. Proibir, Amar e Interditar.
Atender a demanda de gozo da mãe. Acalmar o corpo da mãe; isso é o que um pai faz. Se isso não acontece, ela busca satisfação e completude com o filhinho-falinho e as coisas acabam desandando de vez.
Convocar a mãe pra responder como mulher, como desejante. E o que quer a mãe, afinal? O que a mãe quer é o desejo do pai. Que ele compareça; que dê conta do desejo. Com o desejo, ela fica interditada, proibida, o que faz um bem danado para o bebê, porque permite então que ele faça laço com outras pessoas, e não fique aprisionado. Amor que proíbe e que libera.
Não basta ser pai, tem que interditar.

2 comentários:

  1. Disse Lacan, que não basta ser pai, precisa-se de Um-pai.
    Acho que é isso mesmo o que vc está dizendo...não?

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  2. O jogo de palavras ficou ótimo: "que proíbe e que libera" "sim, coloca". Eu adoro ler textos que fazem das palavras um instrumento de sabedoria, de excepcional comunicação. Parabéns !

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