Desde pequena, sempre ouvi falar no Butantan. Como filha de professora, nomes como Piaget e Einstein eram comuns de serem ouvidos. No começo, não sabia muito do que se tratava, só entendia que era um lugar de conhecimento, o que o tornava sem dúvida, elitizado. Quando estava no pré, fui a uma feira de ciências e vi cobras, aranhas e escorpiões colocados em vidros com álcool, perpetuados para estudo, e apesar de não ser muito fã desses bichos, que não são fofinhos nem bons de apertar, achei o máximo. O apresentador do trabalho, disse que aquela era uma pequena amostra e que no Brasil, o lugar mais respeitado daquela categoria era o Instituto Butantan. Que legal! Ter no Brasil uma instituição tão famosa, conhecida no mundo todo, localizada no bairro que ganhou o mesmo nome pela importância e reconhecimento do instituto.
Hoje, com o incêndio que destruiu o acervo de répteis, lamento a perda da história. O que se perdeu, jamais será recuperado integralmente; é como o incêndio de várias bibliotecas, onde a riqueza de história e de informações se perde, com a diferença de que um livro pode ser reeditado. Com a perda das espécies, o que se perdeu, se perdeu. O incêndio agora entrou para a história, e este, jamais poderá ser apagado. O que vai permitir que o Butantan não fique “tan tan”, é a recuperação através do que foi dito sobre esse acervo, sobre cada espécie, sobre cada nome, sobre o que foi construído, o que vai fazer achar o fio desta meada toda e ir puxando, um de cada vez.
Assim somos nós. Os incêndios que nos queimam podem vir de palavras e atos praticados e presenciados por nós. “Quando eu era pequeno, isso...”, “quando eu era pequeno, aquilo... ”. O inconsciente é a soma dos efeitos da linguagem. O que nos tornamos vem do que escutamos, do que observamos, do que vivemos. Esses eventos criam traços em nossa vida que nos marcam com tanta intensidade que precisamos revivê-los, em forma de repetição, de atuação, de falação. E eles serão jamais, apagados. É o incêndio que entra pra história e deixa uma marca. É o traço que determina nossa maneira de agir, de pensar, de criar. E dependendo da forma como lidamos com ele, esse incêndio vai se apagando ou queimando cada vez mais. A diferença é que em nós, esse incêndio pode ser inesgotável, ele pode queimar durante anos e anos, e anos, e anos. Não é o tempo que apaga as marcas. Aliás, o tempo não apaga nem chama, nem incêndio, nem inconsciente. O que cicatriza uma marca é a elaboração, é o que a gente faz com aquilo. É o que deixa aquela chama, virar cinza. E que dali, a gente possa ressurgir, como Fênix.
Adorei a matéria!!!
ResponderExcluirBeijo.
Parabéns.
Ola,
ResponderExcluirGostaria de saber quando escreveu esta matéria, gostaria de publicar em nosso site.
Obrigado,
Igor
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Por isso no ics o tempo é lógico, e não cronológico...
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