Bandeiras pela cidade, no semáforo, nos carros, nas casas. Quem não tinha bandeira até agora, comprou, deu um jeito. Camisas amarelas, chapeuzinhos, apitos, vuvuzelas. O Brasil respira Copa do Mundo. O comércio pára, as pessoas se programam pra deixar os compromissos para antes ou depois; tudo, menos durante os 90 minutos da bola em campo, e talvez a meia hora antes e as duas depois do jogo.
A gente se reúne, faz pipoca, cachorro-quente, quentão, paçoca e ainda bem que a Copa coincide com essa época do ano, com o friozinho próprio de junho onde é gostoso ficar em casa.
Um mercado de milhões de dólares, onde uma balançada na rede pode fazer o passe do sujeito dar um upgrade de muito dinheiro e fazer sua vida, de toda sua familia, netos e bisnetos mudar para sempre. Não é à toa que mães colocam seus filhinhos pequerruchos em escolinhas de futebol e torcem pra que ele vire craque. Ser craque dá dinheiro.
O fato é que quando ele vira “melhor do mundo”, título difícil de ganhar, muitos descambam. Não conseguem mais fazer aquele gol, aquela jogada, aquele drible. Ou se envolvem em escândalos pessoais com direito a delegacias e travestis, ou são expulsos, ou se machucam com lesões sérias capazes de colocar em risco a própria carreira. Já dizia Freud, em seu artigo “Arruinados pelo Êxito”, como muitas pessoas bem sucedidas profissionalmente e economicamente, mostram-se incapazes de desfrutar deste êxito por causa da angústia com a qual se encontram quando se deparam com o sucesso. Fazem constantes atuações autodestrutivas que os submergem, os abafam, fazendo voltar de novo para baixo, podendo colocar em risco toda sua história de sucesso e traumaticamente fazendo com que tenham contato com a possibilidade do fracasso.
Com tanta frequência ouvimos a expressão é "bom demais para ser verdade", uma sensação de espanto e mescla de alegria. Exemplo da incredulidade que surge tantas vezes quando nos surpreendemos com uma boa notícia, quando sabemos que ganhamos um prêmio, quando viajamos para algum lugar gostoso que esperávamos há muito tempo, ou quando saímos vencedores de algo que desejávamos muito. Parece que sempre tem uma partezinha de nós, com um pé atrás, querendo dizer, não é por aí.
Chega a ser engracado, quando o Brasil demora mais de 15 minutos pra fazer o primeiro gol, os comentaristas soltam a frase: tá na hora de comecar a jogar! Como se os “coitados” dos jogadores não estivessem fazendo nada ao invés disso. Preço alto a se pagar por ser o melhor do mundo. Que o diga Kaká. Por ser quem é, quando o fenônemo encosta na bola, adversários fazem barreira e se colocam ao redor dele para tentar impedi-lo de qualquer possibilidade de sucesso. Quando o jogo está difícil, com a defesa marcando em cima, os comentaristas reclamam do contra-ataque, e assim vai. Tipo de aposta, pra que se der errado, se possa dizer: “Viu? Eu avisei!”. Como se o destino fosse o fracasso, mas que por alguma intercorrência, se tivesse sucesso.
Contudo, com derrotas e vitórias, fomos cinco vezes campeões de 18 Copas. Viu? Não se pode ganhar sempre... afinal, o que seria do sucesso sem a outra face da moeda, o fracasso?
O pior de se querer algo, é conseguir.
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