Qual seria o próximo tema da coluna? Pergunta-me o professor. Respondo, então: angústia! Já que tenho falado e escrito sobre isso, nada mais justo do que falar um pouco disso que não pode ser falado.
A angústia é aquilo que acarreta a falta de palavras. Aquele afeto de desprazer, que se manifesta na gente, em lugar de um sentimento inconsciente, na espera de algo que a gente não pode nomear.
O que te angustia? A primeira sensação é que a gente não pode descrever o que nos provoca angústia. Porém, a gente sente. Sente no corpo. Corpo erógeno, corpo de bordas, corpo pulsionalizado. A gente sente um aperto no peito, uma sensação ruim, um pressentimento. Pré-sentimento. Há toda uma tentativa, algumas vezes, bem sucedida, de aplacar, de fazer desaparecer qualquer manifestação de angústia. Vemos isso no universo médico, na televisão, nas livrarias, no dia-a-dia. Não se suporta a escuta dela. Quando se pergunta: “tudo bem com você?”; acostumamos o ouvido a escutar: “tudo, e você?”. Cruzamos os dedos para que a resposta seja essa e que se a pessoa de fato não estiver com tudo bem, que não seja conosco que ela divida.
Aquilo que a palavra não alcança, aquilo que parece não ter remédio. Mas, como toda indústria farmacológica de tola não tem nada, inventam a cada dia “soluções” pra abafar esse “probleminha”. Novos medicamentos, novas fórmulas, novos pacotes, novas soluções; tudo no estilo: 3 em 1. “Acabe com a angústia, o mal-estar e o cansaço!”. “Leve, leve!!! É imperdível!”. Tudo isso pra evitar o surgimento deste afeto.
Grande oferta de diagnósticos e medicamentos, novos gadgets de um mercado que promete solução para a inquietação. Inquietação porque há algo que não consegue se aquietar e ao mesmo tempo, que não se consegue falar. Há um convite em gozar com a angústia, há uma domesticação dela, como diz Melman. E eles mudam de nome, todos os dias. Não é a toa que a indústria farmacológica cresceu, cresce e cresce a cada dia. Fatia gordinha do mercado, e que talvez esteja tão gorda porque se alimenta da gente. Saída que tampona, que disfarça e que de des/angústia, não tem nada.
O que a gente pode falar da angústia? Que não se pode falar dela. Que ela vai além do que a palavra pode circunscrever. No entanto, sabemos que ela é um afeto, o afeto que não engana. A angústia é da ordem de uma certeza, o que a torna ainda mais difícil de suportar. O que nos deixa aniquilados.
A angústia que sentimos não é que aquilo que a gente sente na iminência de que algo vai faltar. Pra isso, a gente conta com outros recursos, faz outros laços. A angústia é aquela que a gente sente quando se vê como algo, não como alguém. E no sentido do “como” alguém, comidos, engolidos. Pura carne, puro objeto. Talvez aquela carne, que já virou almôndega, e que alimenta os cofrinhos da fatia gordinha, lembra? Quando somos reduzidos a um pedaço, quando o Outro busca a minha perda, porque tenta restituir sua própria falta. Quando sou colocado neste lugar, desapareço como sujeito, e surjo, como puro objeto. Fiapo de carne no dente do Outro. Diante disso: silêncio.
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