quinta-feira, 22 de outubro de 2009

PAI, ME DÁ UMA PLÁSTICA?

Um tempo atrás, fui convidada para dar uma entrevista pra televisão e falar sobre os efeitos psicológicos da cirurgia plástica. Não, não sou contra a plástica, jamais, muito pelo contrário; mas a ressalva que fiz naquele programa, é do quão mais cedo as meninas e meninos tem procurado esse tipo de serviço. Elas querem peitos maiores, gorduras menores (ou nada de gordura, se possível), o nariz da Madonna, a boca da Angelina, a bunda da mais nova gostosa da parada. Tudo isso, com 15 anos de idade. Inclusive, pedem isso como presente.
Debut? Não, De peitos, pai!
A insatisfação com o próprio corpo numa sociedade que prima pela perfeição estética tem levado cada vez mais adolescentes aos consultórios de cirurgia plástica. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), das mais de 700 mil cirurgias realizadas no Brasil, 15% são em adolescentes. Há 10 anos este índice era de 5%. As estatísticas não são oficiais, mas especialistas confirmam que o número de adolescentes em seus consultórios aumentou nos últimos anos.
Hoje é muito fácil procurar cirurgias; tem Internet, revistas, programas de tv e pasme, até consórcio para cirurgias plásticas. Ótimo. É muito importante que isso fique sim, mais acessível, mais dentro do orçamento; o ponto é que cada vez mais, meninas e meninos querem pagar seus consórcios com o dinheiro de suas mesadas. O corpo de um adolescente não está formado com 15 anos. Eles ainda vão crescer, criar músculos, esticar e tomar forma.
Fazer uma cirurgia mexe com o esquema corporal, com o que o outro vê de mim, com o que vejo de mim mesmo; e as mudanças na adolescência já são tão grandes! Tem o luto pelo corpo infantil, a chegada da menstruação, crescimento da barba, depilação, salto alto. Mexer com tudo isso pode ser muito bom, pode trazer benefícios, mas se não houver maturidade, tudo pode sim, dar muito errado. Nesta fase, o adolescente não se apropriou ainda do novo corpo e já quer tirar aqui e colocar lá. Claro, cada caso é um caso; meninas com muito seio, por exemplo, que tem problemas na coluna, tem uma indicação clara pra isso, e tudo pode ficar cor-de-rosa depois de uma diminuição de mamas, porém, há de se advertir. O limiar de frustração aparece hoje cada vez mais cedo. Meninas de cinco anos usando maquiagem, e aquele cabelinho de anjo com mechas? Em que tempo estamos vivendo? A preocupação com a aparência tem surgido muito precocemente, e a intolerância com quem não é perfeitamente perfeito, crescido na mesma proporção das plásticas em adolescentes.
Citando o fofo do Vinícius, sim, fofo nos dois sentidos e agregando um pouquinho, digo então: “as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, crescer também.

Um comentário:

  1. Estima-se que, em média, é criado um blog por segundo no mundo, mas conteúdo assim...
    Ah!! Não é fácil não.

    Parabéns Priscila!

    Edu

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