A Alemanha é um país conhecido pela organização. E de fato, são organizados mesmo. Gostam de uma boa cerveja (também são conhecidos por isso), e são trabalhadores. Conhecida como uma grande potência, participou das duas Grandes Guerras. A primeira, foi motivada entre outras razões; pela partilha de terras da Ásia e África. A Alemanha, no entanto, sentiu-se prejudicada pela divisão, pelo pouco que havia recebido, e decidiram que queriam mais território e igualdade; foi assim que Alemanha, sem manha nenhuma, se colocou na linha de frente contra uma situação que não concordava. Decidiu ir à luta.
É claro que a guerra, de fato, deixa muitas cicatrizes. Mortes, sofrimento, questionamento da justiça. Mas se tem algo que você pode ver quando vai à Alemanha, são as marcas que a luta imprimiu neste povo. Quando existe guerra, as pessoas são obrigadas a se unir, a lutar pelos seus ideais, a se ajudar, a se a ver com suas fraquezas e seguir em frente, encarar os pontos fracos, mas também, potencializar os fortes.
Muito se aprende com a luta. Ela deixa marcas. Não se passa impune, todos se deixam cindir. E é essa cisão que pontua, que coloca as coisas nos seus devidos lugares, que posiciona, que mostra o caminho, que norteia.
A Alemanha é a terceira economia do mundo. O que prova que é o tamanho da força e não do território que faz a diferença. Ela sabe das suas fronteiras, sabe que não é tão grande. No entanto, é por causa dessas fronteiras, que eles sabem que o que está fora, está fora; mas o que está dentro, está dentro pra valer. Sabem o que tem e o que fazer com o que tem. Quando se vai à Colônia, uma cidadezinha bonitinha de lá, dá pra se ver uma igreja que tem mais de 700 anos, e demorou mais de 600 para ser completada. Com as guerras, parte dela foi destruída. No entanto, no mesmo momento em que a guerra terminou, a reconstrução começou. Ela sobreviveu; à primeira e à segunda. Até hoje, ela é sempre cuidada e reformada, a construção é contínua. Assim como é a gente. Assim como é a vida de quem luta. De quem sem manha corre atrás, de quem sabe que a reconstrução pode não acabar, mas que mesmo assim, sabe que desistir sim, é acabar de vez. É aí que está a sua inteireza.
Muitas vezes, temos que nos deixar cortar, cindir, machucar. Nada fácil. No entanto, são esses cortes, que quando cicatrizam, fazem com que a gente saiba por onde caminhar. É com a queda do muro, como o de Berlim. Antes, a Alemanha dividiu-se em duas. Divisão física, visível, palpável. Cisão. Mas com a queda do muro, ela voltou a ser uma só. Coesa.
Lembro então de uma frase da Cecília Meireles que diz: “aprendi com a primavera e me deixar cortar para poder voltar sempre inteira”. Quando a gente se deixa cindir, a gente renuncia; renuncia um caminho, o caminho que deixou; abre mão. Mas o caminho que a gente escolhe pra trilhar, pode ser muito mais claro. O que ficou pra fora, ficou fora mesmo, não adianta mais chorar; mas o que restou, é a sua propriedade, é o próprio, é o meu, o meu de verdade, e posso fazer com ele, o que aprendi com a queda, e do que restou; me reconstruo. Afinal, é em torno da falta que a gente se funda, e sabendo o que se perdeu, a gente sabe também, o que ganhou.
Querida Priscila, fico sempre na expectativa pela coluna da semama ! Essa então está demais, fez-me pensar nas minhas derrotas e o que ganhei com elas, nossa, e como ganhei ! Obrigada por esse dom, que nos abre os olhos. Beijinhos. Erika
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