quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

TIC SUÍÇO, TAC PESSOAL

Ah, os suíços! Se um suíço fala que estará na frente da sua casa às 17h34, acredite: ele estará. Não é a toa que a fama é mundial e que os relógios suíços são conhecidos globalmente. O tic-tac de lá funciona mesmo, sim senhor. Parece impossível, mas a precisão é precisamente precisa. Se pego um ônibus na Suíça que diz que às 13h54 estará em tal ponto, pode apostar: dito e feito.

Pensando bem, o tic-tac de lá é o mesmo tic-tac daqui. O tempo cronológio é sempre o mesmo. Todo dia tem 24 horas, todo ano tem 365 dias e a cada 4 anos tem o ano bissexto. Pra todo o mundo, as horas têm 60 minutos, não interessa se aqui está amanhecendo mais cedo e escurecendo mais tarde, se os dias estão mais curtos como no inverno ou mais longos como no verão. O cronos é suíço, brasileiro, americano, africano, tailandês.

Tem pessoas que vivem no compasso como o tic-tac de um relógio.

Com 2 entram na escolinha, com 7 na primeira série, com 17 terminam o terceirão, ainda entram na faculdade, com 22 se formam, com 27 casam. Com 29 tem o primeiro filho, com 30 compram a primeira casa; tic-tac, tic-tac.

Mas tem coisas na nossa vida que não podem ser cronometradas com toda essa precisão. Existe um tempo lógico dentro de nós que anda em outro compasso, e nada tem a ver com o tic; talvez com o tac. Professores de pré-escola sabem muito bem disso. Ensinam as letrinhas aos baixinhos, ensinam a formação de sílabas, e lá vem uma palavra inteira. Ótimo. Mas podem perguntar pra eles; alguns aprendem antes, outros depois. Famoso “insight”. O resultado de alcançar a íntima natureza das coisas ou de perceber de uma maneira intuitiva. Algumas crianças entram na pré-escola já sabendo algumas palavrinhas; outras, só terminando o ano. E o conteúdo dado na escola foi o mesmo. O mesmo tic, não o mesmo tac. Tac, famosa iluminação, eureka, estalo!

O tempo cronológico angustia. Quantas vezes falamos pra nós mesmos “o tempo está passando”, e como todo mundo sabe, mas que a gente custa a aceitar, ele não volta. Nunca mais. E como o ponteiro do relógio, não adianta segurar. É imperativo. Ele passa, queira você ou não.

Nosso tempo lógico opera diferente. É a assimilação das partezinhas que um dia se juntam, e, quando se juntam, TAC! É quando a gente pode ver as coisas com mais clareza, quando percebe o que estava obscuro, quando compreende e conclui. Lembra do livrinho “Onde Está o Wally?”, tudo parece confuso, uma miscelânia de informações e, de repente, o Wally aparece no meio de tudo aquilo. Uma vez visto, não se esquece jamais. Você pode olhar pra página várias vezes, tentar se confundir de novo, mas não; uma vez percebido, você sabe que jamais poderá se enganar achando que ele não está lá onde achou. Ele surge como uma pipoca estourada no meio de um monte de grãozinhos.
Cada um tem um tempo pra achar o seu Wally. Pra alguns pode parecer mais óbvio, para outros, mais escondido. Mas ele está sempre lá. Esperando meu instante de ver, o meu tempo para compreender e o meu tempo de concluir.
O tic é do outro; o tac é meu.

Um comentário:

  1. Pri,tenho adorado a leitura leve, dinâmica e inteligente de seus textos!Parabéns!!Tudo de bom!Bjos Kátia

    ResponderExcluir