Adeus ano velho, feliz ano novo. Que tudo se realize no ano que vai nascer. Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.
Musiquinha quase folclórica, já; no entanto, munida de ótimos desejos. E que o ano comece mesmo, pra valer, com tudo isso.
Muita saúde, porque sem ela, a gente pode ter muito, sem poder usufruir. Vão.
E entra ano, sai ano, a musiquinha nunca sai de moda. É sempre atual. Que tudo se realize no ano que vai nascer. E a gente se pergunta; será que nunca estarei realizado? Será que um dia haverá um ano em que eu não deseje, e que não cante: “que tudo se realize no ano que vai nascer”? Ah, sim... Há de haver algum lugar, um confuso casarão... onde os sonhos serão reais, e a vida... não. Sábio Chico. E nesse dia, a vida... não.
Desejo é sempre desejo de desejo. E é por isso que entra ano e sai ano, “que tudo se realize...”.
Quando a gente encontra aquilo, já é outra coisa. E assim caminha a humanidade, e a pulsão. Dando voltas e contornando os objetos.
Esse ano eu quero um carro. Batalho por ele, conquisto! E ano que vem, eu quero uma casa! Aí, eu quero mudar os móveis, quero casar, eu quero ter um filho, quero ter dois, quero mudar de cidade, quero entrar na faculdade, quero sair, quero reformar a casa, quero adotar, quero separar, quero emagrecer, quero encontrar o par perfeito, quero trocar de carro. De novo.
Dando voltas e realizando. Gozo. Prazer.
Um desejo pode se realizar, nunca se satisfazer.
E que tudo se realize no ano que vai nascer.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
2010
Ano agitado.
No Brasil, uma mulher na Presidência, o fim e o começo de um novo/velho mandato.
De palhaço candidato à candidata que num lapso fabuloso disse que queria defender toda aquela corrupção. Vote em Tiririca, pior que tá, não fica. Talvez ele tenha razão.
Goleiro acusado de matar a namorada / mãe do filho / amante / atriz pornô, ou sei lá o que.
Milagre no Chile. Mineiros são resgatados depois de dois meses soterrados. Viva o imaginário que fez o resgate antes.
Guerra urbana no Rio. Com vitória da polícia. Quem diria? Diria eu, graças a Deus.
Esperança. A integridade nunca vai sair de moda. Honestidade também.
Pense na sua empresa. Você quer alguém que trabalhe roubando? E na sua casa? Alguém que mexa nas suas coisas?
Não. Nem nas amizades, nem nas relações profissionais, nem nas pessoais.
Respeito, honestidade, honra. Pode-se até divulgar que são coisas fora de moda, e a gente até se acostumar com a corrupção, mas princípios são bases que se constroem em casa, com exemplo e consistência.
Base. Não é a toa que a história do Brasil de corrupção e mais corrupção seja tão... acostumada. Como colônia de exploração, cada um foi acostumado a “tirar o seu”, e o resto é que se exploda.
O importante é explorar. Brigar por gabinetes mais luxuosos, mesas feitas com madeira de lei e cadeiras de couro. E as crianças nas filas dos hospitais, esperando atendimento...
No Brasil, se a mulher for estuprada e estiver usando saia no momento do crime, pode ser ela, considerada culpada.
Diferente da Suécia, que transar sem camisinha, pode ser considerado crime.
De um extremo ao outro. Um extremo ao outro.
Não pode, pode... Não, não pode, nenhuma vez.
De novo, a integridade não sai de moda. Do dicionário, um ser humano íntegro não se vende por situações momentâneas, infringindo as normas e leis, prejudicando alguém por um motivo fútil e incoerente. A moral de uma pessoa não tem preço e é indiscutível.
2010, ano intenso. Vitória de “ao menos um”. E se em 2011 houver alguém pra erguer esta bandeira. Vai virar notícia.
Faço votos.
No Brasil, uma mulher na Presidência, o fim e o começo de um novo/velho mandato.
De palhaço candidato à candidata que num lapso fabuloso disse que queria defender toda aquela corrupção. Vote em Tiririca, pior que tá, não fica. Talvez ele tenha razão.
Goleiro acusado de matar a namorada / mãe do filho / amante / atriz pornô, ou sei lá o que.
Milagre no Chile. Mineiros são resgatados depois de dois meses soterrados. Viva o imaginário que fez o resgate antes.
Guerra urbana no Rio. Com vitória da polícia. Quem diria? Diria eu, graças a Deus.
Esperança. A integridade nunca vai sair de moda. Honestidade também.
Pense na sua empresa. Você quer alguém que trabalhe roubando? E na sua casa? Alguém que mexa nas suas coisas?
Não. Nem nas amizades, nem nas relações profissionais, nem nas pessoais.
Respeito, honestidade, honra. Pode-se até divulgar que são coisas fora de moda, e a gente até se acostumar com a corrupção, mas princípios são bases que se constroem em casa, com exemplo e consistência.
Base. Não é a toa que a história do Brasil de corrupção e mais corrupção seja tão... acostumada. Como colônia de exploração, cada um foi acostumado a “tirar o seu”, e o resto é que se exploda.
O importante é explorar. Brigar por gabinetes mais luxuosos, mesas feitas com madeira de lei e cadeiras de couro. E as crianças nas filas dos hospitais, esperando atendimento...
No Brasil, se a mulher for estuprada e estiver usando saia no momento do crime, pode ser ela, considerada culpada.
Diferente da Suécia, que transar sem camisinha, pode ser considerado crime.
De um extremo ao outro. Um extremo ao outro.
Não pode, pode... Não, não pode, nenhuma vez.
De novo, a integridade não sai de moda. Do dicionário, um ser humano íntegro não se vende por situações momentâneas, infringindo as normas e leis, prejudicando alguém por um motivo fútil e incoerente. A moral de uma pessoa não tem preço e é indiscutível.
2010, ano intenso. Vitória de “ao menos um”. E se em 2011 houver alguém pra erguer esta bandeira. Vai virar notícia.
Faço votos.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
A CIDADE DO CRISTO
Sobrancelhas levantadas, olhos arregalados, cabeça projetada para frente. Ouvidos mais atentos, arrepio, atenção exagerada, o coração bate forte, como se pudesse ser escutado; a boca seca, há tremor. Adrenalina a mil.
Medo. Palavra conhecida de quem tem vivido e observado o estado de tensão da cidade maravilhosa. Mas quem durante a história sentiu medo, estava do lado errado; éramos nós.
O pai perdeu a sua função. Cristo está de braços abertos, calado.
Com o crescimento da violência, gera-se mais violência. Não é à toa a máxima: agressividade gera agressividade.
O Estado perdeu seu poder. Não há um Outro que intervenha; que barre. Aliás, o sujeito não é barrado. Pode-se tudo, a prisão é uma “continuidade sem lei” de onde se pode dar ordens, basta ter um celular, e para conseguí-lo, vale enfiá-lo em certos orifícios. E a palavra é dada. Palavra; de merda.
Foi-se acostumando que todos têm um preço. Mas o preço... é branco.
Aonde está o Coronel Nascimento? Alguém que diga: “auto, lá!”?. Que não seja corruptível, que não tenha preço. Que não venda ideais, ou melhor, que pague o preço por eles.
Com a ação do BOPE, parece que alguém tinha que se curvar. E foram os bandidos. Numa sociedade em que não há mais nome-do-pai, nem lei, nem errado, ou melhor, um certo em que se goza por passar por cima; a era do “é ilegal, e daí?”; alguém que desse a cara, olhando pra câmera e dizendo: “nós vamos caçá-los onde estiverem”, vem como uma castração radical; sem manha, sem “se’s”. Que apaziguador, apesar da guerra.
Esses dias escutei sobre esta intervenção, e alguém disse: “as próximas gerações virão, e o tráfico continuará”. Sim, as próximas gerações virão e eu torço pra que nelas existam muitos Coronéis Nascimento ao invés de muitos Mister’s M. M daquela palavra feia, e M de mágica também, que parece fazer o coelhinho branco sumir, de dentro da cartola. Afinal, se a gente apostar que o tráfico não tem fim, estaremos admitindo nossa fraqueza de Gabriela e só nos falta sair cantando: “eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim...”. Pode até ser que ele não tenha fim, mas se conformar com isso e fazer nada a respeito é nomear algo que não pode ser nomeado, é rotular, é engessar. E nada estaria mais engessado do que o Cristo, de braços abertos, mas boca calada.
Bater continência, se curvar diante da autoridade, prestar conta, amarrar os pontos, pontuar. Reverência, silêncio. Silêncio pra se escutar uma voz, que agora, fala.
Medo. Palavra conhecida de quem tem vivido e observado o estado de tensão da cidade maravilhosa. Mas quem durante a história sentiu medo, estava do lado errado; éramos nós.
O pai perdeu a sua função. Cristo está de braços abertos, calado.
Com o crescimento da violência, gera-se mais violência. Não é à toa a máxima: agressividade gera agressividade.
O Estado perdeu seu poder. Não há um Outro que intervenha; que barre. Aliás, o sujeito não é barrado. Pode-se tudo, a prisão é uma “continuidade sem lei” de onde se pode dar ordens, basta ter um celular, e para conseguí-lo, vale enfiá-lo em certos orifícios. E a palavra é dada. Palavra; de merda.
Foi-se acostumando que todos têm um preço. Mas o preço... é branco.
Aonde está o Coronel Nascimento? Alguém que diga: “auto, lá!”?. Que não seja corruptível, que não tenha preço. Que não venda ideais, ou melhor, que pague o preço por eles.
Com a ação do BOPE, parece que alguém tinha que se curvar. E foram os bandidos. Numa sociedade em que não há mais nome-do-pai, nem lei, nem errado, ou melhor, um certo em que se goza por passar por cima; a era do “é ilegal, e daí?”; alguém que desse a cara, olhando pra câmera e dizendo: “nós vamos caçá-los onde estiverem”, vem como uma castração radical; sem manha, sem “se’s”. Que apaziguador, apesar da guerra.
Esses dias escutei sobre esta intervenção, e alguém disse: “as próximas gerações virão, e o tráfico continuará”. Sim, as próximas gerações virão e eu torço pra que nelas existam muitos Coronéis Nascimento ao invés de muitos Mister’s M. M daquela palavra feia, e M de mágica também, que parece fazer o coelhinho branco sumir, de dentro da cartola. Afinal, se a gente apostar que o tráfico não tem fim, estaremos admitindo nossa fraqueza de Gabriela e só nos falta sair cantando: “eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim...”. Pode até ser que ele não tenha fim, mas se conformar com isso e fazer nada a respeito é nomear algo que não pode ser nomeado, é rotular, é engessar. E nada estaria mais engessado do que o Cristo, de braços abertos, mas boca calada.
Bater continência, se curvar diante da autoridade, prestar conta, amarrar os pontos, pontuar. Reverência, silêncio. Silêncio pra se escutar uma voz, que agora, fala.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
MEU PÉ DE CARAMBOLA
Adoro árvores. Pequenas e grandes, folhudas e sem folhas, frutíferas ou não, miniaturas e imensas; e quando pequena, não tinha meu pé de laranja lima, mas tinha meu pé de carambola. Ficava na chácara da minha avó, e ele era maravilhoso. Pendurava paninhos das bonecas, levava almofadas lá pra cima, pra horror da minha tia e até filhotinhos de cachorro foram passear lá em cima comigo, confesso. Tínhamos um esquema, meu primo e eu, onde amarrávamos uma corda em um balde, que diga-se de passagem, surrupiávamos da minha avó, e enquanto um ia lá pra cima para ajeitar a corda entre os galhos pra dar apoio e puxar o balde, o outro esperava lá embaixo com o pequerrucho até o “ok” do companheiro. Era o máximo. E como amo cachorros, poder estar na árvore, junto com eles, era praticamente uma consagração. Nos sentíamos abrigados, porque essa era uma árvore folhuda, e tinham lugares que nos acolhiam tão bem, que era possível, literalmente, deitar. Ficávamos lá, a tarde toda, até o intervalo das dezesseis horas, que era a hora do café, exigido rigorosamente esse horário pelo meu avô. Mas, ao lado do meu pé de carambola, havia um pé de figo. Nunca fui muito fã dele, acho que porque quando pequena não gostava muito de figo, mas sabia que minha avó gostava muito. Só que o pé de figo era sempre feinho, (comparado ao meu pé de carambola, é claro), no entanto, ele sempre dava figo. Produzia muito, e minha avó estava sempre às voltas dele.
Esses dias, passei com minha mãe ao lado de um pé de figo. Bonito, viçoso, com folhas dignas de serem guardadas dentro de um livro, aquelas... que ficam velhinhas e quanto mais velhinhas, melhor. Porém, ao passar por ele, escuto minha mãe: “Que pena... não foi podado, não dá frutos”.
Frase de efeito. Assim como as árvores, assim como somos nós.
Interessante como com essa tendência toda do “não trauma” que vivemos hoje, a gente se exime de pontuar coisas e coisas para nossas crianças. Se fez errado, dá-se uma chance; se roubou a primeira vez é porque é réu primário, se bateu no coleguinha é por causa da diferença, se bateu no pai é porque tava nervoso. Se, se, se... não foi nesse contexto, mas o fofo do Djavan escreveu “mas você adora um ‘se’”.... e é verdade. "Mais fácil aprender japonês em braile, do que você decidir se dá ou não”. Se dá ou não uma bronca, se impõe ou não um castigo, se pontua uma frase ou não, se poda ou se deixa crescer solto.
O problema de se crescer solto, é que de solto, não tem nada. Castração parcial ou falta total de castração é sempre... problema. Problema nas escolas, problema em casa, problema social. O limite libera, por mais insano que isto possa parecer; palavra de psicanalista. Sabendo até onde se pode ir, deixa a gente muito mais tranquilo, seguro de que o caminho é aquele e não o outro, cheio de “se’s”, aquele caminho em que parece se estar pisando num campo minado, não sabendo onde está a bomba, pode-se estar pisando em cima de uma.
Ah, sim... meu pé de carambola também era podado, e dava frutos lindos, saborosos e cheios de vida; assim como dizia Cecília: “Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”. Metáfora da árvore. E continuando o parafraseado da mesma Cecília: “ou isto, ou aquilo”.
Esses dias, passei com minha mãe ao lado de um pé de figo. Bonito, viçoso, com folhas dignas de serem guardadas dentro de um livro, aquelas... que ficam velhinhas e quanto mais velhinhas, melhor. Porém, ao passar por ele, escuto minha mãe: “Que pena... não foi podado, não dá frutos”.
Frase de efeito. Assim como as árvores, assim como somos nós.
Interessante como com essa tendência toda do “não trauma” que vivemos hoje, a gente se exime de pontuar coisas e coisas para nossas crianças. Se fez errado, dá-se uma chance; se roubou a primeira vez é porque é réu primário, se bateu no coleguinha é por causa da diferença, se bateu no pai é porque tava nervoso. Se, se, se... não foi nesse contexto, mas o fofo do Djavan escreveu “mas você adora um ‘se’”.... e é verdade. "Mais fácil aprender japonês em braile, do que você decidir se dá ou não”. Se dá ou não uma bronca, se impõe ou não um castigo, se pontua uma frase ou não, se poda ou se deixa crescer solto.
O problema de se crescer solto, é que de solto, não tem nada. Castração parcial ou falta total de castração é sempre... problema. Problema nas escolas, problema em casa, problema social. O limite libera, por mais insano que isto possa parecer; palavra de psicanalista. Sabendo até onde se pode ir, deixa a gente muito mais tranquilo, seguro de que o caminho é aquele e não o outro, cheio de “se’s”, aquele caminho em que parece se estar pisando num campo minado, não sabendo onde está a bomba, pode-se estar pisando em cima de uma.
Ah, sim... meu pé de carambola também era podado, e dava frutos lindos, saborosos e cheios de vida; assim como dizia Cecília: “Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”. Metáfora da árvore. E continuando o parafraseado da mesma Cecília: “ou isto, ou aquilo”.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
O POETA E O TRAÇO
Poeta, que poeta... não fala de amor?
Transmissão da emoção
Transmissão? Tradução?
Não, sensação.
Pra poder traduzir é preciso sentir.
Sentir sem medo, sentir de alma, sentir de corpo.
Corpo pulsional, alma visceral...
Paixão, arrepio
Bem me quer, mal me quer
Bem me quer o céu
Mal me quer o inferno
De um pólo ao outro, em um segundo.
Ouço a voz
Estilhaço de objeto a que invade
Olhar, não o olho
Olhar que revela meu eu, no Outro
Espelho
Reconhecimento
Paixão
Um tanto quanto narcísica
Mas o que seria dela se não fosse o eu?
Vazio
Abismo
Passagem ao ato
Ato
Mato
Fato
Marca
Traço
O mesmo pelo qual me apaixono
O pontinho no nariz pelo qual desapaixono
Traço, laço
Unário, único
Desde aquele tempo em que éramos um só.
Transmissão da emoção
Transmissão? Tradução?
Não, sensação.
Pra poder traduzir é preciso sentir.
Sentir sem medo, sentir de alma, sentir de corpo.
Corpo pulsional, alma visceral...
Paixão, arrepio
Bem me quer, mal me quer
Bem me quer o céu
Mal me quer o inferno
De um pólo ao outro, em um segundo.
Ouço a voz
Estilhaço de objeto a que invade
Olhar, não o olho
Olhar que revela meu eu, no Outro
Espelho
Reconhecimento
Paixão
Um tanto quanto narcísica
Mas o que seria dela se não fosse o eu?
Vazio
Abismo
Passagem ao ato
Ato
Mato
Fato
Marca
Traço
O mesmo pelo qual me apaixono
O pontinho no nariz pelo qual desapaixono
Traço, laço
Unário, único
Desde aquele tempo em que éramos um só.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
O RESGATE IMAGINÁRIO
Hoje, os mineiros estão sendo resgatados.
Depois de sessenta e nove dias de pesadelo, sem a luz do sol, sem os familiares, sem a rotina de antes, um a um, começam a vir para a superfície.
Saem de lá com óculos de sol potentes; porque desacostumaram com a luz do sol, e diga-se de passagem, a gente se acostuma com a escuridão. E isso vale de metáfora. Quantas vezes somos tomados pelos infortúnios da vida, que não são poucos, que esperamos que o próximo evento, será novamente uma cacetada. Quem já não viu um cachorro na rua, que quando nos aproximamos, sai correndo, esperando que vamos enxotá-lo. Já está tão acostumado a ser maltratado, e mal-tratado, que qualquer aproximação, ele vê como ameaça. Nos acostumamos com a escuridão.
No entanto, a escuridão da mina, faz com que cada um tenha que contribuir com sua própria luz. Os grupos são complementares. E estou doida pra saber as táticas que eles inventaram lá embaixo para sobreviver. Um deve ter assumido o lugar de líder do grupo, o outro, de ajudante, o outro, de jogador, o outro de esportista, o outro, de mal-humorado, e que trouxesse desse modo, assunto para os demais, e assim, passaram e sobreviveram a esta prova agonizante.
Viva o Imaginário. Discutia com minha irmã, por estes dias, sobre o valor deste registro na nossa estrutura. Sem o Imaginário, viramos pó, padecemos, psicotizamos. Quando enfrentamos um desafio, se o Imaginário não der conta, se a gente não tiver recurso pra acreditar, pra visualizar, pra preencher, (imaginariamente) nossa falta, ficamos à beira do abismo, surtamos. O Imaginário é, portanto, o próprio resgate. O que nos tira da REALidade muitas vezes insuportável; o que nos permite dar um passo a mais, mesmo sem a menor garantia. Acreditar no encontro, como dizia Vinícius... que “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Desencontro, depois do encontro, mesmo depois de perdido, mas resgatado.
Quando estamos lá embaixo, no próprio abismo, se não tivermos esse recurso, que enlaça, que se junta com o simbólico, perdemos o rumo, o eixo, a estrutura. Ficamos perdidos, mesmo achados; na escuridão, mesmo no claro; enterrados, mesmo na superfície. Nos acostumamos com a escuridão. E ela toma conta, se não tomarmos conta dela. Apagar a luz, mas depois acendê-la. Nem que imaginariamente.
Depois de sessenta e nove dias de pesadelo, sem a luz do sol, sem os familiares, sem a rotina de antes, um a um, começam a vir para a superfície.
Saem de lá com óculos de sol potentes; porque desacostumaram com a luz do sol, e diga-se de passagem, a gente se acostuma com a escuridão. E isso vale de metáfora. Quantas vezes somos tomados pelos infortúnios da vida, que não são poucos, que esperamos que o próximo evento, será novamente uma cacetada. Quem já não viu um cachorro na rua, que quando nos aproximamos, sai correndo, esperando que vamos enxotá-lo. Já está tão acostumado a ser maltratado, e mal-tratado, que qualquer aproximação, ele vê como ameaça. Nos acostumamos com a escuridão.
No entanto, a escuridão da mina, faz com que cada um tenha que contribuir com sua própria luz. Os grupos são complementares. E estou doida pra saber as táticas que eles inventaram lá embaixo para sobreviver. Um deve ter assumido o lugar de líder do grupo, o outro, de ajudante, o outro, de jogador, o outro de esportista, o outro, de mal-humorado, e que trouxesse desse modo, assunto para os demais, e assim, passaram e sobreviveram a esta prova agonizante.
Viva o Imaginário. Discutia com minha irmã, por estes dias, sobre o valor deste registro na nossa estrutura. Sem o Imaginário, viramos pó, padecemos, psicotizamos. Quando enfrentamos um desafio, se o Imaginário não der conta, se a gente não tiver recurso pra acreditar, pra visualizar, pra preencher, (imaginariamente) nossa falta, ficamos à beira do abismo, surtamos. O Imaginário é, portanto, o próprio resgate. O que nos tira da REALidade muitas vezes insuportável; o que nos permite dar um passo a mais, mesmo sem a menor garantia. Acreditar no encontro, como dizia Vinícius... que “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Desencontro, depois do encontro, mesmo depois de perdido, mas resgatado.
Quando estamos lá embaixo, no próprio abismo, se não tivermos esse recurso, que enlaça, que se junta com o simbólico, perdemos o rumo, o eixo, a estrutura. Ficamos perdidos, mesmo achados; na escuridão, mesmo no claro; enterrados, mesmo na superfície. Nos acostumamos com a escuridão. E ela toma conta, se não tomarmos conta dela. Apagar a luz, mas depois acendê-la. Nem que imaginariamente.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
ANGÚSTIA
Qual seria o próximo tema da coluna? Pergunta-me o professor. Respondo, então: angústia! Já que tenho falado e escrito sobre isso, nada mais justo do que falar um pouco disso que não pode ser falado.
A angústia é aquilo que acarreta a falta de palavras. Aquele afeto de desprazer, que se manifesta na gente, em lugar de um sentimento inconsciente, na espera de algo que a gente não pode nomear.
O que te angustia? A primeira sensação é que a gente não pode descrever o que nos provoca angústia. Porém, a gente sente. Sente no corpo. Corpo erógeno, corpo de bordas, corpo pulsionalizado. A gente sente um aperto no peito, uma sensação ruim, um pressentimento. Pré-sentimento. Há toda uma tentativa, algumas vezes, bem sucedida, de aplacar, de fazer desaparecer qualquer manifestação de angústia. Vemos isso no universo médico, na televisão, nas livrarias, no dia-a-dia. Não se suporta a escuta dela. Quando se pergunta: “tudo bem com você?”; acostumamos o ouvido a escutar: “tudo, e você?”. Cruzamos os dedos para que a resposta seja essa e que se a pessoa de fato não estiver com tudo bem, que não seja conosco que ela divida.
Aquilo que a palavra não alcança, aquilo que parece não ter remédio. Mas, como toda indústria farmacológica de tola não tem nada, inventam a cada dia “soluções” pra abafar esse “probleminha”. Novos medicamentos, novas fórmulas, novos pacotes, novas soluções; tudo no estilo: 3 em 1. “Acabe com a angústia, o mal-estar e o cansaço!”. “Leve, leve!!! É imperdível!”. Tudo isso pra evitar o surgimento deste afeto.
Grande oferta de diagnósticos e medicamentos, novos gadgets de um mercado que promete solução para a inquietação. Inquietação porque há algo que não consegue se aquietar e ao mesmo tempo, que não se consegue falar. Há um convite em gozar com a angústia, há uma domesticação dela, como diz Melman. E eles mudam de nome, todos os dias. Não é a toa que a indústria farmacológica cresceu, cresce e cresce a cada dia. Fatia gordinha do mercado, e que talvez esteja tão gorda porque se alimenta da gente. Saída que tampona, que disfarça e que de des/angústia, não tem nada.
O que a gente pode falar da angústia? Que não se pode falar dela. Que ela vai além do que a palavra pode circunscrever. No entanto, sabemos que ela é um afeto, o afeto que não engana. A angústia é da ordem de uma certeza, o que a torna ainda mais difícil de suportar. O que nos deixa aniquilados.
A angústia que sentimos não é que aquilo que a gente sente na iminência de que algo vai faltar. Pra isso, a gente conta com outros recursos, faz outros laços. A angústia é aquela que a gente sente quando se vê como algo, não como alguém. E no sentido do “como” alguém, comidos, engolidos. Pura carne, puro objeto. Talvez aquela carne, que já virou almôndega, e que alimenta os cofrinhos da fatia gordinha, lembra? Quando somos reduzidos a um pedaço, quando o Outro busca a minha perda, porque tenta restituir sua própria falta. Quando sou colocado neste lugar, desapareço como sujeito, e surjo, como puro objeto. Fiapo de carne no dente do Outro. Diante disso: silêncio.
A angústia é aquilo que acarreta a falta de palavras. Aquele afeto de desprazer, que se manifesta na gente, em lugar de um sentimento inconsciente, na espera de algo que a gente não pode nomear.
O que te angustia? A primeira sensação é que a gente não pode descrever o que nos provoca angústia. Porém, a gente sente. Sente no corpo. Corpo erógeno, corpo de bordas, corpo pulsionalizado. A gente sente um aperto no peito, uma sensação ruim, um pressentimento. Pré-sentimento. Há toda uma tentativa, algumas vezes, bem sucedida, de aplacar, de fazer desaparecer qualquer manifestação de angústia. Vemos isso no universo médico, na televisão, nas livrarias, no dia-a-dia. Não se suporta a escuta dela. Quando se pergunta: “tudo bem com você?”; acostumamos o ouvido a escutar: “tudo, e você?”. Cruzamos os dedos para que a resposta seja essa e que se a pessoa de fato não estiver com tudo bem, que não seja conosco que ela divida.
Aquilo que a palavra não alcança, aquilo que parece não ter remédio. Mas, como toda indústria farmacológica de tola não tem nada, inventam a cada dia “soluções” pra abafar esse “probleminha”. Novos medicamentos, novas fórmulas, novos pacotes, novas soluções; tudo no estilo: 3 em 1. “Acabe com a angústia, o mal-estar e o cansaço!”. “Leve, leve!!! É imperdível!”. Tudo isso pra evitar o surgimento deste afeto.
Grande oferta de diagnósticos e medicamentos, novos gadgets de um mercado que promete solução para a inquietação. Inquietação porque há algo que não consegue se aquietar e ao mesmo tempo, que não se consegue falar. Há um convite em gozar com a angústia, há uma domesticação dela, como diz Melman. E eles mudam de nome, todos os dias. Não é a toa que a indústria farmacológica cresceu, cresce e cresce a cada dia. Fatia gordinha do mercado, e que talvez esteja tão gorda porque se alimenta da gente. Saída que tampona, que disfarça e que de des/angústia, não tem nada.
O que a gente pode falar da angústia? Que não se pode falar dela. Que ela vai além do que a palavra pode circunscrever. No entanto, sabemos que ela é um afeto, o afeto que não engana. A angústia é da ordem de uma certeza, o que a torna ainda mais difícil de suportar. O que nos deixa aniquilados.
A angústia que sentimos não é que aquilo que a gente sente na iminência de que algo vai faltar. Pra isso, a gente conta com outros recursos, faz outros laços. A angústia é aquela que a gente sente quando se vê como algo, não como alguém. E no sentido do “como” alguém, comidos, engolidos. Pura carne, puro objeto. Talvez aquela carne, que já virou almôndega, e que alimenta os cofrinhos da fatia gordinha, lembra? Quando somos reduzidos a um pedaço, quando o Outro busca a minha perda, porque tenta restituir sua própria falta. Quando sou colocado neste lugar, desapareço como sujeito, e surjo, como puro objeto. Fiapo de carne no dente do Outro. Diante disso: silêncio.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
A MINA
Imagine que você está num lugar escuro, sem luz do sol, portanto sem diferenciação do dia ou da noite. Perdeu-se a rotina, os horários das refeições, o objetivo da sua missão. Sua sorte é: outras 32 pessoas estão com você neste lugar. Ainda bem que não se está sozinho, o que eu diria que seria estar a um passo da loucura. Estar sem um Outro que norteie o que está acontecendo e venha acalmar e dizer que tudo vai ficar bem. Plena dor do desamparo de que falava Freud. Atualizada e revivida com tudo o que se tem direito. À falta de demanda, à escuridão de que viemos, o útero.
Querendo encontrar ouro, deram de cara com a escuridão. Foi assim que os mineiros do Chile foram parar na mina escura a 700 metros da superfície.
O mundo inteiro se comoveu com a tragédia dos mineiros. E sem dúvida, os primeiros dias foram os de maior angústia. Sem saber se iriam encontrá-los, sem saber se morreriam de inanição, sem saber se notariam sua falta, perderam cada um, cerca de 10 quilos já nos primeiros dias. Soterrados à mercê de que alguém viesse em socorro, sem um Grande Outro que pudesse intervir, ficaram angustiados e acredito que se estivessem sozinhos, prefeririam a morte à espera.
Em experiência feita com candidatos, que acredito serem candidatos à angústia, que ficaram cerca de quatro dias num quarto escuro sem janelas, sem a luz do sol, sem televisão, sem ninguém para conversar, em isolamento total; tiveram alucinações, auditivas, visuais e sensoriais, onde uma das participantes disse ter sua cama molhada e por isso clamava por intervenção. Clamava por alguém que viesse trocar sua cama. Alguém. Qualquer um. Um. Alguém.
Histórias não faltam de pessoas que se viram sozinhas num lugar estranho, como o caso do filme Náufrago, em que Tom Hanks elege Wilson, uma bola de vôlei, como seu único e melhor amigo, com quem ele pudesse compartilhar as palavras e os efeitos de sua solidão. Solidão pré-wilson, diga-se de passagem. Poder dizer para o amigo-bola como se sentia e poder se remeter a um outro já é por si só calmante, e bem menos psicótico. Wilson tinha, inclusive, expressão. O que serve de resposta, espelho. Não é a toa que se colocaram psicólogos e médicos de plantão para que os mineiros, mesmo na escuridão, possam ser ouvidos de suas angústias; e não enlouqueçam maciçamente.
Todos nascemos numa mina, que pode sim, ser cercada de ouro e metais caros, mas que se não tiver alguém para nos resgatar e nos fazer demanda, enlouqueceremos como mineiros na mina, e crianças sem pais; como um cachorro sem dono, que vive a vagar solitário pelas ruas, como um palhaço sem platéia, como um bebê sem colo. Não tendo a quem se remeter, perdemos o norte, a direção, a bússola. Não sabemos nem dar as direções para sermos resgatados.
Precisamos de um outro. De um Grande Outro que venha em nosso socorro e que nos estenda a mão, que nos dirija o olhar, que nos invoque a voz e nos resgate da escuridão de onde viemos, para que possamos chorar com a luz extra-uterina, um Outro que nos resgate da mina com a altura do maior edifício, porém, abaixo da terra, pra que se possa diferenciar o dia da noite, e que da escuridão, se faça luz.
Querendo encontrar ouro, deram de cara com a escuridão. Foi assim que os mineiros do Chile foram parar na mina escura a 700 metros da superfície.
O mundo inteiro se comoveu com a tragédia dos mineiros. E sem dúvida, os primeiros dias foram os de maior angústia. Sem saber se iriam encontrá-los, sem saber se morreriam de inanição, sem saber se notariam sua falta, perderam cada um, cerca de 10 quilos já nos primeiros dias. Soterrados à mercê de que alguém viesse em socorro, sem um Grande Outro que pudesse intervir, ficaram angustiados e acredito que se estivessem sozinhos, prefeririam a morte à espera.
Em experiência feita com candidatos, que acredito serem candidatos à angústia, que ficaram cerca de quatro dias num quarto escuro sem janelas, sem a luz do sol, sem televisão, sem ninguém para conversar, em isolamento total; tiveram alucinações, auditivas, visuais e sensoriais, onde uma das participantes disse ter sua cama molhada e por isso clamava por intervenção. Clamava por alguém que viesse trocar sua cama. Alguém. Qualquer um. Um. Alguém.
Histórias não faltam de pessoas que se viram sozinhas num lugar estranho, como o caso do filme Náufrago, em que Tom Hanks elege Wilson, uma bola de vôlei, como seu único e melhor amigo, com quem ele pudesse compartilhar as palavras e os efeitos de sua solidão. Solidão pré-wilson, diga-se de passagem. Poder dizer para o amigo-bola como se sentia e poder se remeter a um outro já é por si só calmante, e bem menos psicótico. Wilson tinha, inclusive, expressão. O que serve de resposta, espelho. Não é a toa que se colocaram psicólogos e médicos de plantão para que os mineiros, mesmo na escuridão, possam ser ouvidos de suas angústias; e não enlouqueçam maciçamente.
Todos nascemos numa mina, que pode sim, ser cercada de ouro e metais caros, mas que se não tiver alguém para nos resgatar e nos fazer demanda, enlouqueceremos como mineiros na mina, e crianças sem pais; como um cachorro sem dono, que vive a vagar solitário pelas ruas, como um palhaço sem platéia, como um bebê sem colo. Não tendo a quem se remeter, perdemos o norte, a direção, a bússola. Não sabemos nem dar as direções para sermos resgatados.
Precisamos de um outro. De um Grande Outro que venha em nosso socorro e que nos estenda a mão, que nos dirija o olhar, que nos invoque a voz e nos resgate da escuridão de onde viemos, para que possamos chorar com a luz extra-uterina, um Outro que nos resgate da mina com a altura do maior edifício, porém, abaixo da terra, pra que se possa diferenciar o dia da noite, e que da escuridão, se faça luz.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
A DISNEY DA VIDA REAL
A Disney é mágica. Faz você acreditar (pelo menos por algumas horas), que a fantasia é possível. Não é por acaso que o nome do parque principal se chama Reino Mágico e também não é a toa que o logo é: “onde o sonho se torna realidade”. E é verdade. Com fogos de artifício dançando conforme a música, com direito a Pato Donald e Pateta andando pra lá e pra cá, como alguém que está na própria casa (e de fato estão mesmo), é difícil não acreditar que se está vivendo um conto de fadas. Ainda mais quando você encontra a própria Cinderela na carruagem, desfilando, em plena rua. Acho inclusive que os funcionários são mesmo multados se não estiverem sorrindo e acenando para os visitantes o tempo todo. É um tipo de multa por não mostrar a felicidade. Os bonecos e personagens demonstram alegria o tempo todo, sorriem, e fazem você acreditar que aquele é o melhor lugar do mundo para se trabalhar. Se é que se pode chamar de trabalho. Que delícia, poder vender fantasia, acreditar nela e ainda lucrar com ela. Muita cor, muito brilho, um mundo cor-de-rosa; e azul celeste também.
Talvez, a maior função da fantasia, seja fazer a gente acreditar. Acreditar na possibilidade das coisas. Talvez os homens não casem mesmo com a Cinderela, nem as mulheres com o príncipe, mas que a gente possa pelo menos enxergar as qualidades do “uma vez príncipe” de vez em quando.
Toda grande conquista, foi alguma vez considerada impossível. Avanços da tecnologia, por exemplo, quando poderíamos imaginar que seria possível conversar com alguém do outro lado do mundo através de uma tela de computador, e vê-la, em tempo real. Sim, isso já foi impossível, no entanto hoje, é comum, apesar de ter gente que ainda não acredita nisso. Certamente quem nunca acreditou, foi mais certamente ainda incapaz de criar.
Pessoas que julgam os sonhos tão impossíveis, que jamais lutam por eles. Não fazem laço, acreditam que seu empenho não faz diferença, passam pela vida sem atuar e pior ainda, sem achar nenhuma graça. Vão para um lugar diferente achando tudo igual. Tudo tão igual, tão igual, que a vida acaba passando igual mesmo, sem nenhuma diferença e satisfação.
É claro que a gente não se sacia permanentemente com a realização da fantasia, a gente quer logo outra coisa. Afinal, desejo é sempre desejo de desejo; mas que gostoso quando a gente ainda pode ser feliz com algo que queria muito, que a gente ainda se satisfaça com aquela comida que estava com vontade de comer, que possa curtir o lugar onde queria chegar. Seja lá a Disneylândia ou não.
Talvez, a maior função da fantasia, seja fazer a gente acreditar. Acreditar na possibilidade das coisas. Talvez os homens não casem mesmo com a Cinderela, nem as mulheres com o príncipe, mas que a gente possa pelo menos enxergar as qualidades do “uma vez príncipe” de vez em quando.
Toda grande conquista, foi alguma vez considerada impossível. Avanços da tecnologia, por exemplo, quando poderíamos imaginar que seria possível conversar com alguém do outro lado do mundo através de uma tela de computador, e vê-la, em tempo real. Sim, isso já foi impossível, no entanto hoje, é comum, apesar de ter gente que ainda não acredita nisso. Certamente quem nunca acreditou, foi mais certamente ainda incapaz de criar.
Pessoas que julgam os sonhos tão impossíveis, que jamais lutam por eles. Não fazem laço, acreditam que seu empenho não faz diferença, passam pela vida sem atuar e pior ainda, sem achar nenhuma graça. Vão para um lugar diferente achando tudo igual. Tudo tão igual, tão igual, que a vida acaba passando igual mesmo, sem nenhuma diferença e satisfação.
É claro que a gente não se sacia permanentemente com a realização da fantasia, a gente quer logo outra coisa. Afinal, desejo é sempre desejo de desejo; mas que gostoso quando a gente ainda pode ser feliz com algo que queria muito, que a gente ainda se satisfaça com aquela comida que estava com vontade de comer, que possa curtir o lugar onde queria chegar. Seja lá a Disneylândia ou não.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
NÃO BASTA SER PAI
Quase todas as mulheres se preparam precocemente para a função da maternidade. Ganham bonequinhas, mamadeirinhas, roupinhas, chuquinhas. Aprendem a fazer ninar as bonecas, tão, tão bem, que no momento em que a gente pega um bebê de verdade no colo pela primeira vez, aquilo parece ser mais do que natural. Parece instintivo.
Mas o que estou eu aqui falando de ser mãe se o tema da coluna é pai?
Ah, o pai... com tanta simbiose numa relação de tanta espera da mãe com o bebê, (PAI) função pela qual ela esperou desde que se conhece por menina, (PAI) e que ganhou a primeira boneca, (PAI) parece quase impossível haver separação entre essas duas partes (PAI). Simbiose gostosa, (PAI) que parece ser a certeza da reevindicação de todas as faltas sofridas até então (PAI), o ressarcimento do que foi perdido. Mãe e filho estão lá, apaixonados um pelo outro,(PAI). Porém, junção demais tem lá seus problemas (PAI). Pai é aquele que separa, aquele que se coloca no meio, aquele que faz cisão.
Lembro de um livro que comprei que falava da função paterna. Sua capa fazia de três giletes, a cara de um pai. Função de corte, de posicionamento. O pai priva a mãe de seu filhinho-falinho e a convoca pra responder de outro lugar. Convoca a mãe pra que possa satisfazê-la de outra forma e pra que saia dessa redondice em relação ao filhinho.
Discutia esses dias, num grupo sobre os pais bananas. Aquele que não tem autoridade, que deixa tudo, que abre mão do seu desejo, que permite demais. Os bananas que me perdoem, mas firmeza é fundamental. Em todos os sentidos.
Ditado sábio aquele: “não basta ser pai, tem que participar”. Ativamente, diga-se de passagem. Aquele que se importa, que coloca. Sim, coloca.
Pai, aquele que interdita; aquele que põe uma cerquinha ao redor da mãe e diz: “vem cá que agora é a minha vez”. Aquele que deseja a mãe, que mostra pro filho que a mãe é a mulher dele e que se o baby quiser um amor assim, igual àquele, que ele cresça, apareça e busque e forme sua própria família. Ser PAI. Proibir, Amar e Interditar.
Atender a demanda de gozo da mãe. Acalmar o corpo da mãe; isso é o que um pai faz. Se isso não acontece, ela busca satisfação e completude com o filhinho-falinho e as coisas acabam desandando de vez.
Convocar a mãe pra responder como mulher, como desejante. E o que quer a mãe, afinal? O que a mãe quer é o desejo do pai. Que ele compareça; que dê conta do desejo. Com o desejo, ela fica interditada, proibida, o que faz um bem danado para o bebê, porque permite então que ele faça laço com outras pessoas, e não fique aprisionado. Amor que proíbe e que libera.
Não basta ser pai, tem que interditar.
Mas o que estou eu aqui falando de ser mãe se o tema da coluna é pai?
Ah, o pai... com tanta simbiose numa relação de tanta espera da mãe com o bebê, (PAI) função pela qual ela esperou desde que se conhece por menina, (PAI) e que ganhou a primeira boneca, (PAI) parece quase impossível haver separação entre essas duas partes (PAI). Simbiose gostosa, (PAI) que parece ser a certeza da reevindicação de todas as faltas sofridas até então (PAI), o ressarcimento do que foi perdido. Mãe e filho estão lá, apaixonados um pelo outro,(PAI). Porém, junção demais tem lá seus problemas (PAI). Pai é aquele que separa, aquele que se coloca no meio, aquele que faz cisão.
Lembro de um livro que comprei que falava da função paterna. Sua capa fazia de três giletes, a cara de um pai. Função de corte, de posicionamento. O pai priva a mãe de seu filhinho-falinho e a convoca pra responder de outro lugar. Convoca a mãe pra que possa satisfazê-la de outra forma e pra que saia dessa redondice em relação ao filhinho.
Discutia esses dias, num grupo sobre os pais bananas. Aquele que não tem autoridade, que deixa tudo, que abre mão do seu desejo, que permite demais. Os bananas que me perdoem, mas firmeza é fundamental. Em todos os sentidos.
Ditado sábio aquele: “não basta ser pai, tem que participar”. Ativamente, diga-se de passagem. Aquele que se importa, que coloca. Sim, coloca.
Pai, aquele que interdita; aquele que põe uma cerquinha ao redor da mãe e diz: “vem cá que agora é a minha vez”. Aquele que deseja a mãe, que mostra pro filho que a mãe é a mulher dele e que se o baby quiser um amor assim, igual àquele, que ele cresça, apareça e busque e forme sua própria família. Ser PAI. Proibir, Amar e Interditar.
Atender a demanda de gozo da mãe. Acalmar o corpo da mãe; isso é o que um pai faz. Se isso não acontece, ela busca satisfação e completude com o filhinho-falinho e as coisas acabam desandando de vez.
Convocar a mãe pra responder como mulher, como desejante. E o que quer a mãe, afinal? O que a mãe quer é o desejo do pai. Que ele compareça; que dê conta do desejo. Com o desejo, ela fica interditada, proibida, o que faz um bem danado para o bebê, porque permite então que ele faça laço com outras pessoas, e não fique aprisionado. Amor que proíbe e que libera.
Não basta ser pai, tem que interditar.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
SÓ UM TAPINHA, DÓI?
Esta semana, corre a notícia de um projeto de lei que proíbe os castigos corporais e inclusive as palmadinhas em crianças.
Sou do tempo em que conhecia os meus limites através do olhar da minha mãe. Se estávamos na casa de alguém, e passávamos dos limites na bagunça, mamãe olhava com um olhar menorzinho, meio de canto de olho; pronto. Era o suficiente pra impor o limite que estava faltando. Dissimetria. Ela era maior, mais forte, mais madura, e mais do que tudo isso, ela era minha mãe.
Ela mãe, eu filha. Simples assim. Diferença entre os envolvidos. Nós não éramos iguais. Quando eu não queria parar a brincadeira, que se deixasse ia até à meia-noite, ELA sabia o sono e o cansaço que eu teria que enfrentar no dia seguinte na hora de ir pra escola, e cortava o meu barato. Para meu próprio bem. Sem deixar o Princípio do Prazer ficar rolando solto e imperativo por aí. O Princípio da Realidade precisava ser mostrado, imposto, até porque ele se impõe mesmo, e não era por isso que acabava o gozo. Instauração da rotina. Hora de brincar, hora de comer, hora de dormir, trocar um prazer por uma necessidade que também é prazerosa e que não pode ser negligenciada. Mas eu não sabia disso. Foi ela que me mostrou. Foi ela quem me botou no mundo, ela é quem deveria saber o que é melhor pra mim. Mesmo quando eu queria medir força, ela se impôs. Que bom. Dissimetria. As partes não são iguais. Ela mãe, eu filha. Simples assim.
Uma criança, na sua birrinha da “fase do não”, pode até tentar, espernear, medir força, chorar, mas quem deve mandar, é o adulto. É esse Outro grandão que deve tomar as rédeas da educação e mostrar o caminho. Por mais estranho que isso possa parecer, e de apesar de ela não saber disso, a criança não quer que lhe atendam todas as demandas, ela precisa é de parada. Hora de brincar, hora de dormir, hora de comer. Se ela não tem posicionamento, não sabe pra onde ir, fica perdida.
Projeto pra se acabar com a palmada. Não coloco aqui o favoritismo da palmada, nem a falta dela. A favor da dissimetria, sim. Ela, mãe; eu, filha. Simples assim. Apanhei duas vezes na minha vida. Com razão. E pra falar a verdade, acredito que tenha doído muito mais na minha mãe do que em mim.
Vi outro dia, no mercado, um projeto de pessoa de cinco anos, mandando, a mãe calar a boca. Sim, mandando; e sim, com estas palavras. Fiquei tão indignada na hora que quase entreguei um cartão. Como assim, mandar a mãe calar a boca? Se agora é calar a boca, o que vai ser daqui a dois anos? Hoje, a infância é colocada em redoma de vidro, ou melhor, de cristal, como aquele vaso bonito que só dá pra olhar, mas que ninguém pensa em relar. E vira lei. O que acontece é que logo, logo elas aprendem este poder nas mãos e fazem uso disso. Elas próprias ameaçam os pais. Caminho da perversão. O não, não é não de verdade. O não é quase sim. “Olha, não faça isso, mas se fizer, faça só um pouquinho”. Duplo sentido, “não pode, pode”, é não, mas é sim. E com a falta de posicionamento e dissimetria, um tapinha dói, dói muito, nos pais.
Infância colocada em redoma de vidro, como o vaso bonito, na estante, na altura dos grandes.
A falta do tapinha, do posicionamento. Confusão de papéis, tudo igual, tudo igual.
Não. Não é igual. Dissimetria. Ela mãe, eu filha.
Sou do tempo em que conhecia os meus limites através do olhar da minha mãe. Se estávamos na casa de alguém, e passávamos dos limites na bagunça, mamãe olhava com um olhar menorzinho, meio de canto de olho; pronto. Era o suficiente pra impor o limite que estava faltando. Dissimetria. Ela era maior, mais forte, mais madura, e mais do que tudo isso, ela era minha mãe.
Ela mãe, eu filha. Simples assim. Diferença entre os envolvidos. Nós não éramos iguais. Quando eu não queria parar a brincadeira, que se deixasse ia até à meia-noite, ELA sabia o sono e o cansaço que eu teria que enfrentar no dia seguinte na hora de ir pra escola, e cortava o meu barato. Para meu próprio bem. Sem deixar o Princípio do Prazer ficar rolando solto e imperativo por aí. O Princípio da Realidade precisava ser mostrado, imposto, até porque ele se impõe mesmo, e não era por isso que acabava o gozo. Instauração da rotina. Hora de brincar, hora de comer, hora de dormir, trocar um prazer por uma necessidade que também é prazerosa e que não pode ser negligenciada. Mas eu não sabia disso. Foi ela que me mostrou. Foi ela quem me botou no mundo, ela é quem deveria saber o que é melhor pra mim. Mesmo quando eu queria medir força, ela se impôs. Que bom. Dissimetria. As partes não são iguais. Ela mãe, eu filha. Simples assim.
Uma criança, na sua birrinha da “fase do não”, pode até tentar, espernear, medir força, chorar, mas quem deve mandar, é o adulto. É esse Outro grandão que deve tomar as rédeas da educação e mostrar o caminho. Por mais estranho que isso possa parecer, e de apesar de ela não saber disso, a criança não quer que lhe atendam todas as demandas, ela precisa é de parada. Hora de brincar, hora de dormir, hora de comer. Se ela não tem posicionamento, não sabe pra onde ir, fica perdida.
Projeto pra se acabar com a palmada. Não coloco aqui o favoritismo da palmada, nem a falta dela. A favor da dissimetria, sim. Ela, mãe; eu, filha. Simples assim. Apanhei duas vezes na minha vida. Com razão. E pra falar a verdade, acredito que tenha doído muito mais na minha mãe do que em mim.
Vi outro dia, no mercado, um projeto de pessoa de cinco anos, mandando, a mãe calar a boca. Sim, mandando; e sim, com estas palavras. Fiquei tão indignada na hora que quase entreguei um cartão. Como assim, mandar a mãe calar a boca? Se agora é calar a boca, o que vai ser daqui a dois anos? Hoje, a infância é colocada em redoma de vidro, ou melhor, de cristal, como aquele vaso bonito que só dá pra olhar, mas que ninguém pensa em relar. E vira lei. O que acontece é que logo, logo elas aprendem este poder nas mãos e fazem uso disso. Elas próprias ameaçam os pais. Caminho da perversão. O não, não é não de verdade. O não é quase sim. “Olha, não faça isso, mas se fizer, faça só um pouquinho”. Duplo sentido, “não pode, pode”, é não, mas é sim. E com a falta de posicionamento e dissimetria, um tapinha dói, dói muito, nos pais.
Infância colocada em redoma de vidro, como o vaso bonito, na estante, na altura dos grandes.
A falta do tapinha, do posicionamento. Confusão de papéis, tudo igual, tudo igual.
Não. Não é igual. Dissimetria. Ela mãe, eu filha.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
MARCO ZERO
Hoje é o dia.
Dia D, dia de, dia A, Marco Zero.
Uma história começa, e outras dentro dessa.
Um desejo, um “eu quero”, teve que ser assim. Só que nessa época, eu nem sabia, nem sonhava... ah, sonhar, eu não sonhava mesmo.
O dia do aniversário é sempre reflexivo. Para quem acredita, inferno astral um mês antes do dia, contagem de alegrias e vitórias, às vezes de derrotas e sacrifícios.
Tic tac, o tempo passa. Angústia. Imperativo de um Outro que se faz absoluto me colocando como objeto do tempo. Tic tac.
À espera de alguma coisa durante os dias antecedentes, vi no relógio, o ponteiro dos segundos; não aquele da paradinha, do instante. Aquele que passa continuamente, sem parar, sem parar. Mais parecia uma ampulheta,com a areia se esvaindo por entre o espaço. Não dá pra pegar. Não dá pra impedir. O tempo cronológico é sempre imparcial, absoluto, inflexível. Ele é.
A gente gosta e não gosta de fazer aniversário. Ambiguidade... nada é absoluto, a não ser o tempo. Tic tac.
O tempo é muito lento para os que esperam, já dizia Shakespeare....
“muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam, mas, para os que amam, o tempo é eterno”.
Ah, para os que amam... aqueles minutos ficam pra sempre registrados. Fazem marcas, corporais inclusive. Visceral. Aquilo que é do mais profundo, do encontro. Aquilo que não se tem muito como evitar, que simplesmente acontece. Traço. Traço que a gente tenta reencontrar durante a vida toda. Durante todo o tempo. Ah, tempo...
A vida é a tarefa de casa que a gente tem pra fazer. Com a diferença de que deixar para o dia seguinte pode ser arriscado, mas a gente deixa mesmo assim, contando com a sorte e cruzando os dedos para que o tempo passe devagar, porém, não é quando ele é melhor que ele passa mais rápido? Ora, não sou eu que estou falando, é Shakespeare.
Tempo. O que você vai fazer com o tempo? Plástica. Resposta pronta de alguém que tenta controlar a marca que o tempo faz. Faz a marca e deixa a marca. Inegociável.
O que você faz com o tempo?
Pois eu cheguei à conclusão que prefiro que ele seja curto. Afinal, é para os que festejam que ele passa mais depressa. Que seja uma festa, então, e que ele passe voando.
Dia D, dia de, dia A, Marco Zero.
Uma história começa, e outras dentro dessa.
Um desejo, um “eu quero”, teve que ser assim. Só que nessa época, eu nem sabia, nem sonhava... ah, sonhar, eu não sonhava mesmo.
O dia do aniversário é sempre reflexivo. Para quem acredita, inferno astral um mês antes do dia, contagem de alegrias e vitórias, às vezes de derrotas e sacrifícios.
Tic tac, o tempo passa. Angústia. Imperativo de um Outro que se faz absoluto me colocando como objeto do tempo. Tic tac.
À espera de alguma coisa durante os dias antecedentes, vi no relógio, o ponteiro dos segundos; não aquele da paradinha, do instante. Aquele que passa continuamente, sem parar, sem parar. Mais parecia uma ampulheta,com a areia se esvaindo por entre o espaço. Não dá pra pegar. Não dá pra impedir. O tempo cronológico é sempre imparcial, absoluto, inflexível. Ele é.
A gente gosta e não gosta de fazer aniversário. Ambiguidade... nada é absoluto, a não ser o tempo. Tic tac.
O tempo é muito lento para os que esperam, já dizia Shakespeare....
“muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam, mas, para os que amam, o tempo é eterno”.
Ah, para os que amam... aqueles minutos ficam pra sempre registrados. Fazem marcas, corporais inclusive. Visceral. Aquilo que é do mais profundo, do encontro. Aquilo que não se tem muito como evitar, que simplesmente acontece. Traço. Traço que a gente tenta reencontrar durante a vida toda. Durante todo o tempo. Ah, tempo...
A vida é a tarefa de casa que a gente tem pra fazer. Com a diferença de que deixar para o dia seguinte pode ser arriscado, mas a gente deixa mesmo assim, contando com a sorte e cruzando os dedos para que o tempo passe devagar, porém, não é quando ele é melhor que ele passa mais rápido? Ora, não sou eu que estou falando, é Shakespeare.
Tempo. O que você vai fazer com o tempo? Plástica. Resposta pronta de alguém que tenta controlar a marca que o tempo faz. Faz a marca e deixa a marca. Inegociável.
O que você faz com o tempo?
Pois eu cheguei à conclusão que prefiro que ele seja curto. Afinal, é para os que festejam que ele passa mais depressa. Que seja uma festa, então, e que ele passe voando.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
A COPA DO MUNDO É NOSSA?
Bandeiras pela cidade, no semáforo, nos carros, nas casas. Quem não tinha bandeira até agora, comprou, deu um jeito. Camisas amarelas, chapeuzinhos, apitos, vuvuzelas. O Brasil respira Copa do Mundo. O comércio pára, as pessoas se programam pra deixar os compromissos para antes ou depois; tudo, menos durante os 90 minutos da bola em campo, e talvez a meia hora antes e as duas depois do jogo.
A gente se reúne, faz pipoca, cachorro-quente, quentão, paçoca e ainda bem que a Copa coincide com essa época do ano, com o friozinho próprio de junho onde é gostoso ficar em casa.
Um mercado de milhões de dólares, onde uma balançada na rede pode fazer o passe do sujeito dar um upgrade de muito dinheiro e fazer sua vida, de toda sua familia, netos e bisnetos mudar para sempre. Não é à toa que mães colocam seus filhinhos pequerruchos em escolinhas de futebol e torcem pra que ele vire craque. Ser craque dá dinheiro.
O fato é que quando ele vira “melhor do mundo”, título difícil de ganhar, muitos descambam. Não conseguem mais fazer aquele gol, aquela jogada, aquele drible. Ou se envolvem em escândalos pessoais com direito a delegacias e travestis, ou são expulsos, ou se machucam com lesões sérias capazes de colocar em risco a própria carreira. Já dizia Freud, em seu artigo “Arruinados pelo Êxito”, como muitas pessoas bem sucedidas profissionalmente e economicamente, mostram-se incapazes de desfrutar deste êxito por causa da angústia com a qual se encontram quando se deparam com o sucesso. Fazem constantes atuações autodestrutivas que os submergem, os abafam, fazendo voltar de novo para baixo, podendo colocar em risco toda sua história de sucesso e traumaticamente fazendo com que tenham contato com a possibilidade do fracasso.
Com tanta frequência ouvimos a expressão é "bom demais para ser verdade", uma sensação de espanto e mescla de alegria. Exemplo da incredulidade que surge tantas vezes quando nos surpreendemos com uma boa notícia, quando sabemos que ganhamos um prêmio, quando viajamos para algum lugar gostoso que esperávamos há muito tempo, ou quando saímos vencedores de algo que desejávamos muito. Parece que sempre tem uma partezinha de nós, com um pé atrás, querendo dizer, não é por aí.
Chega a ser engracado, quando o Brasil demora mais de 15 minutos pra fazer o primeiro gol, os comentaristas soltam a frase: tá na hora de comecar a jogar! Como se os “coitados” dos jogadores não estivessem fazendo nada ao invés disso. Preço alto a se pagar por ser o melhor do mundo. Que o diga Kaká. Por ser quem é, quando o fenônemo encosta na bola, adversários fazem barreira e se colocam ao redor dele para tentar impedi-lo de qualquer possibilidade de sucesso. Quando o jogo está difícil, com a defesa marcando em cima, os comentaristas reclamam do contra-ataque, e assim vai. Tipo de aposta, pra que se der errado, se possa dizer: “Viu? Eu avisei!”. Como se o destino fosse o fracasso, mas que por alguma intercorrência, se tivesse sucesso.
Contudo, com derrotas e vitórias, fomos cinco vezes campeões de 18 Copas. Viu? Não se pode ganhar sempre... afinal, o que seria do sucesso sem a outra face da moeda, o fracasso?
A gente se reúne, faz pipoca, cachorro-quente, quentão, paçoca e ainda bem que a Copa coincide com essa época do ano, com o friozinho próprio de junho onde é gostoso ficar em casa.
Um mercado de milhões de dólares, onde uma balançada na rede pode fazer o passe do sujeito dar um upgrade de muito dinheiro e fazer sua vida, de toda sua familia, netos e bisnetos mudar para sempre. Não é à toa que mães colocam seus filhinhos pequerruchos em escolinhas de futebol e torcem pra que ele vire craque. Ser craque dá dinheiro.
O fato é que quando ele vira “melhor do mundo”, título difícil de ganhar, muitos descambam. Não conseguem mais fazer aquele gol, aquela jogada, aquele drible. Ou se envolvem em escândalos pessoais com direito a delegacias e travestis, ou são expulsos, ou se machucam com lesões sérias capazes de colocar em risco a própria carreira. Já dizia Freud, em seu artigo “Arruinados pelo Êxito”, como muitas pessoas bem sucedidas profissionalmente e economicamente, mostram-se incapazes de desfrutar deste êxito por causa da angústia com a qual se encontram quando se deparam com o sucesso. Fazem constantes atuações autodestrutivas que os submergem, os abafam, fazendo voltar de novo para baixo, podendo colocar em risco toda sua história de sucesso e traumaticamente fazendo com que tenham contato com a possibilidade do fracasso.
Com tanta frequência ouvimos a expressão é "bom demais para ser verdade", uma sensação de espanto e mescla de alegria. Exemplo da incredulidade que surge tantas vezes quando nos surpreendemos com uma boa notícia, quando sabemos que ganhamos um prêmio, quando viajamos para algum lugar gostoso que esperávamos há muito tempo, ou quando saímos vencedores de algo que desejávamos muito. Parece que sempre tem uma partezinha de nós, com um pé atrás, querendo dizer, não é por aí.
Chega a ser engracado, quando o Brasil demora mais de 15 minutos pra fazer o primeiro gol, os comentaristas soltam a frase: tá na hora de comecar a jogar! Como se os “coitados” dos jogadores não estivessem fazendo nada ao invés disso. Preço alto a se pagar por ser o melhor do mundo. Que o diga Kaká. Por ser quem é, quando o fenônemo encosta na bola, adversários fazem barreira e se colocam ao redor dele para tentar impedi-lo de qualquer possibilidade de sucesso. Quando o jogo está difícil, com a defesa marcando em cima, os comentaristas reclamam do contra-ataque, e assim vai. Tipo de aposta, pra que se der errado, se possa dizer: “Viu? Eu avisei!”. Como se o destino fosse o fracasso, mas que por alguma intercorrência, se tivesse sucesso.
Contudo, com derrotas e vitórias, fomos cinco vezes campeões de 18 Copas. Viu? Não se pode ganhar sempre... afinal, o que seria do sucesso sem a outra face da moeda, o fracasso?
quinta-feira, 10 de junho de 2010
AMAR É...
Amar... difícil definir este verbo. Na minha formatura, fui incumbida de fazer a homenagem “aos que amamos”. Tarefa complicada, já que as definições parecem às vezes serem insuficientes para expressar o que de fato é esse afeto. O dicionário o traz como ter amor, afeição, dedicação, devoção, e existem na verdade, milhares de frases e pensamentos sobre o amor. Porém, me questiono sobre qual delas tem de fato a melhor definição.
Já dizia Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.”
É da ordem do invisível, do meio indescritível, que tem um pouco de sofrível, mas que todos querem dizer que é vivível.
Quando falei sobre o amor, colhi alguns depoimentos de crianças, que me devolveram a ideia. “Amar é quando você sai para comer e oferece suas batatinhas fritas sem esperar que a outra pessoa te ofereça as batatinhas dela". Grande definição. Sabedoria de um garoto de 6 anos.
Amar é dar o que não se tem, a quem não o quer; já dizia Lacan. E o que eu não tenho? Ora, o que eu não tenho, é porque me falta. E falta, é desejo. É o que bota pra funcionar, é o que me faz levantar todos os dias. E eu dou isso, a quem não me pede.
O amor não trabalha sob demanda. Por isso mesmo, a frase “eu te amo” pode ser, muitas vezes retórica. Eu falo porque quero ouvir “eu te amo” de volta. Porém, o amor mesmo, é aquele que se sente, mesmo que o outro não peça. Sem forma de cobrança, de “me diga porque eu preciso ouvir”.
Amar, está para além disso. Está no mais além da retórica, no mais além da demanda. Amar é dar a própria falta, o próprio desejo sem que o outro o peça, ou queira. Talvez, amar esteja pra muito além do que a gente sabe e o que acha que sabe sobre o amor. Estamos acostumados com o “amo porque ele me dá”, “amo porque ela tem”, “amo porque ela é bonita”, “amo poque ele é rico”, “amo porque”, “amo porque”, “amo porque”... Talvez, a sacada fosse: “amo não sei porque, amo não sei porque, amo não sei porque, mas amo.”
E assim, fico com a bela música do Chico: “Tanto Amar”.
“Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita...; Tem um olho sempre a boiar; E outro que agita (...); Se os seus olhos eu for cantar;Um seu olho me atura;E outro olho vai desmanchar;Toda a pintura”.
Amo tanto e de tanto amar, que a beleza se enxerga mais com os olhos fechados do que abertos, além do que o outro queira, além do lugar que o outro convoca, além do que o outro pede. Amo.
Já dizia Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.”
É da ordem do invisível, do meio indescritível, que tem um pouco de sofrível, mas que todos querem dizer que é vivível.
Quando falei sobre o amor, colhi alguns depoimentos de crianças, que me devolveram a ideia. “Amar é quando você sai para comer e oferece suas batatinhas fritas sem esperar que a outra pessoa te ofereça as batatinhas dela". Grande definição. Sabedoria de um garoto de 6 anos.
Amar é dar o que não se tem, a quem não o quer; já dizia Lacan. E o que eu não tenho? Ora, o que eu não tenho, é porque me falta. E falta, é desejo. É o que bota pra funcionar, é o que me faz levantar todos os dias. E eu dou isso, a quem não me pede.
O amor não trabalha sob demanda. Por isso mesmo, a frase “eu te amo” pode ser, muitas vezes retórica. Eu falo porque quero ouvir “eu te amo” de volta. Porém, o amor mesmo, é aquele que se sente, mesmo que o outro não peça. Sem forma de cobrança, de “me diga porque eu preciso ouvir”.
Amar, está para além disso. Está no mais além da retórica, no mais além da demanda. Amar é dar a própria falta, o próprio desejo sem que o outro o peça, ou queira. Talvez, amar esteja pra muito além do que a gente sabe e o que acha que sabe sobre o amor. Estamos acostumados com o “amo porque ele me dá”, “amo porque ela tem”, “amo porque ela é bonita”, “amo poque ele é rico”, “amo porque”, “amo porque”, “amo porque”... Talvez, a sacada fosse: “amo não sei porque, amo não sei porque, amo não sei porque, mas amo.”
E assim, fico com a bela música do Chico: “Tanto Amar”.
“Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita...; Tem um olho sempre a boiar; E outro que agita (...); Se os seus olhos eu for cantar;Um seu olho me atura;E outro olho vai desmanchar;Toda a pintura”.
Amo tanto e de tanto amar, que a beleza se enxerga mais com os olhos fechados do que abertos, além do que o outro queira, além do lugar que o outro convoca, além do que o outro pede. Amo.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O QUE QUEIMA NÃO SÓ O BUTANTAN
Desde pequena, sempre ouvi falar no Butantan. Como filha de professora, nomes como Piaget e Einstein eram comuns de serem ouvidos. No começo, não sabia muito do que se tratava, só entendia que era um lugar de conhecimento, o que o tornava sem dúvida, elitizado. Quando estava no pré, fui a uma feira de ciências e vi cobras, aranhas e escorpiões colocados em vidros com álcool, perpetuados para estudo, e apesar de não ser muito fã desses bichos, que não são fofinhos nem bons de apertar, achei o máximo. O apresentador do trabalho, disse que aquela era uma pequena amostra e que no Brasil, o lugar mais respeitado daquela categoria era o Instituto Butantan. Que legal! Ter no Brasil uma instituição tão famosa, conhecida no mundo todo, localizada no bairro que ganhou o mesmo nome pela importância e reconhecimento do instituto.
Hoje, com o incêndio que destruiu o acervo de répteis, lamento a perda da história. O que se perdeu, jamais será recuperado integralmente; é como o incêndio de várias bibliotecas, onde a riqueza de história e de informações se perde, com a diferença de que um livro pode ser reeditado. Com a perda das espécies, o que se perdeu, se perdeu. O incêndio agora entrou para a história, e este, jamais poderá ser apagado. O que vai permitir que o Butantan não fique “tan tan”, é a recuperação através do que foi dito sobre esse acervo, sobre cada espécie, sobre cada nome, sobre o que foi construído, o que vai fazer achar o fio desta meada toda e ir puxando, um de cada vez.
Assim somos nós. Os incêndios que nos queimam podem vir de palavras e atos praticados e presenciados por nós. “Quando eu era pequeno, isso...”, “quando eu era pequeno, aquilo... ”. O inconsciente é a soma dos efeitos da linguagem. O que nos tornamos vem do que escutamos, do que observamos, do que vivemos. Esses eventos criam traços em nossa vida que nos marcam com tanta intensidade que precisamos revivê-los, em forma de repetição, de atuação, de falação. E eles serão jamais, apagados. É o incêndio que entra pra história e deixa uma marca. É o traço que determina nossa maneira de agir, de pensar, de criar. E dependendo da forma como lidamos com ele, esse incêndio vai se apagando ou queimando cada vez mais. A diferença é que em nós, esse incêndio pode ser inesgotável, ele pode queimar durante anos e anos, e anos, e anos. Não é o tempo que apaga as marcas. Aliás, o tempo não apaga nem chama, nem incêndio, nem inconsciente. O que cicatriza uma marca é a elaboração, é o que a gente faz com aquilo. É o que deixa aquela chama, virar cinza. E que dali, a gente possa ressurgir, como Fênix.
Hoje, com o incêndio que destruiu o acervo de répteis, lamento a perda da história. O que se perdeu, jamais será recuperado integralmente; é como o incêndio de várias bibliotecas, onde a riqueza de história e de informações se perde, com a diferença de que um livro pode ser reeditado. Com a perda das espécies, o que se perdeu, se perdeu. O incêndio agora entrou para a história, e este, jamais poderá ser apagado. O que vai permitir que o Butantan não fique “tan tan”, é a recuperação através do que foi dito sobre esse acervo, sobre cada espécie, sobre cada nome, sobre o que foi construído, o que vai fazer achar o fio desta meada toda e ir puxando, um de cada vez.
Assim somos nós. Os incêndios que nos queimam podem vir de palavras e atos praticados e presenciados por nós. “Quando eu era pequeno, isso...”, “quando eu era pequeno, aquilo... ”. O inconsciente é a soma dos efeitos da linguagem. O que nos tornamos vem do que escutamos, do que observamos, do que vivemos. Esses eventos criam traços em nossa vida que nos marcam com tanta intensidade que precisamos revivê-los, em forma de repetição, de atuação, de falação. E eles serão jamais, apagados. É o incêndio que entra pra história e deixa uma marca. É o traço que determina nossa maneira de agir, de pensar, de criar. E dependendo da forma como lidamos com ele, esse incêndio vai se apagando ou queimando cada vez mais. A diferença é que em nós, esse incêndio pode ser inesgotável, ele pode queimar durante anos e anos, e anos, e anos. Não é o tempo que apaga as marcas. Aliás, o tempo não apaga nem chama, nem incêndio, nem inconsciente. O que cicatriza uma marca é a elaboração, é o que a gente faz com aquilo. É o que deixa aquela chama, virar cinza. E que dali, a gente possa ressurgir, como Fênix.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
MÃE
Mãe, palavra doce, e certamente inesquecível. Ninguém esquece a própria mãe. É o primeiro Outro primordial, a que tem a nossa história nas mãos e que decide o que fazer com ela. Nossa história começa antes pelo desejo dela, o que ela sonhou pra gente, em que lugar nos coloca, refletido na escolha do nosso nome.
Ah, mãe... de todos os pacientes que escuto, impossível em algum momento da sua análise não trazer à tona esta palavra ao menos uma vez. Minha mãe isso, minha mãe aquilo... seja como for, ela sempre vai aparecer. Afinal, ela é responsável em parte pelo que nos tornamos.
Nos nove meses de espera, na idealização dos primeiros passos, em escutar a primeira palavrinha, e na torcida pra que seja “mamãe”... Muitas mulheres pensam e escolhem os parceiros imaginando se terão bons genes, mas a vontade de ser mãe, independe deste parceiro na maioria das vezes. O que a gente já sabe, desde que brinca com o bebê careca, é que queremos ser mães. O que a gente sonha mesmo é com o barrigão, imaginando como será o rostinho, em apertar os pezinhos, as mãozinhas, a barriguinha. E é nesse cuidado, que passa do puro cuidado para o que é prazeroso; onde a mãe investe de gozo o corpinho do bebê, quando ela também sente prazer nesse cuidado; é isso que faz com que a gente passe de um pedacinho de carne simplesmente e se transforme num ser humano que se arrepia quando passa um vento, que sente frio e calor, e mil e uma sensações. Não é a toa que em várias patologias, a sensação de corpo é diferente. Afinal, nascemos todos iguais, mas por que um sente arrepio aqui e outro ali, um atrás da cabeça, o outro na barriga, um sente coceguinhas na sola do pé, o outro, não...
É o quanto a mãe sonha com essa criança, é quando ela dá espaço pra que a criança possa se desenvolver sem sufocar demais nem cuidar de menos. Receita difícil, quer dizer, falta de receita, onde cada uma, na medida do sentimento e da história vai encontrando a identidade maternal. Talvez a receitinha básica venha do que a gente aprendeu com a própria mãe, e isso está implícito, inconsciente, marcado. Ah, e passaremos isso também inconsciente para os filhos, querendo ou não.
Uma oscilação entre o céu e o inferno, já dizia a frase: “ser mãe é padecer no paraíso”; imagino o inferno na longa espera de uma mãe pelo seu filho que saiu sem dar notícias, e o céu quando esse filho chega, sem nada de ruim ter acontecido; ou o primeiro sorriso desse filho direcionado pra mãe, o abraço apertado, ou quando finalmente ela escuta que a primeira palavrinha foi mesmo... “mamãe”. Mágica de poder inimaginável que faz tudo valer a pena.
O amor, cuidado, e o desejo da mãe é o combustível que transforma seres humanos em seres capazes, o comum em especial, o ordinário em extraordinário.
É então, do desejo que se trata. Do desejo dessa mãe, investido nesse filho que pode transformar toda uma realidade e a vida de cada um de nós; e que faz o feliz dia dos filhos retribuído em Feliz Dia das Mães.
Ah, mãe... de todos os pacientes que escuto, impossível em algum momento da sua análise não trazer à tona esta palavra ao menos uma vez. Minha mãe isso, minha mãe aquilo... seja como for, ela sempre vai aparecer. Afinal, ela é responsável em parte pelo que nos tornamos.
Nos nove meses de espera, na idealização dos primeiros passos, em escutar a primeira palavrinha, e na torcida pra que seja “mamãe”... Muitas mulheres pensam e escolhem os parceiros imaginando se terão bons genes, mas a vontade de ser mãe, independe deste parceiro na maioria das vezes. O que a gente já sabe, desde que brinca com o bebê careca, é que queremos ser mães. O que a gente sonha mesmo é com o barrigão, imaginando como será o rostinho, em apertar os pezinhos, as mãozinhas, a barriguinha. E é nesse cuidado, que passa do puro cuidado para o que é prazeroso; onde a mãe investe de gozo o corpinho do bebê, quando ela também sente prazer nesse cuidado; é isso que faz com que a gente passe de um pedacinho de carne simplesmente e se transforme num ser humano que se arrepia quando passa um vento, que sente frio e calor, e mil e uma sensações. Não é a toa que em várias patologias, a sensação de corpo é diferente. Afinal, nascemos todos iguais, mas por que um sente arrepio aqui e outro ali, um atrás da cabeça, o outro na barriga, um sente coceguinhas na sola do pé, o outro, não...
É o quanto a mãe sonha com essa criança, é quando ela dá espaço pra que a criança possa se desenvolver sem sufocar demais nem cuidar de menos. Receita difícil, quer dizer, falta de receita, onde cada uma, na medida do sentimento e da história vai encontrando a identidade maternal. Talvez a receitinha básica venha do que a gente aprendeu com a própria mãe, e isso está implícito, inconsciente, marcado. Ah, e passaremos isso também inconsciente para os filhos, querendo ou não.
Uma oscilação entre o céu e o inferno, já dizia a frase: “ser mãe é padecer no paraíso”; imagino o inferno na longa espera de uma mãe pelo seu filho que saiu sem dar notícias, e o céu quando esse filho chega, sem nada de ruim ter acontecido; ou o primeiro sorriso desse filho direcionado pra mãe, o abraço apertado, ou quando finalmente ela escuta que a primeira palavrinha foi mesmo... “mamãe”. Mágica de poder inimaginável que faz tudo valer a pena.
O amor, cuidado, e o desejo da mãe é o combustível que transforma seres humanos em seres capazes, o comum em especial, o ordinário em extraordinário.
É então, do desejo que se trata. Do desejo dessa mãe, investido nesse filho que pode transformar toda uma realidade e a vida de cada um de nós; e que faz o feliz dia dos filhos retribuído em Feliz Dia das Mães.
segunda-feira, 1 de março de 2010
QUAL É O SEU LUGAR?
Ganhei uma priminha. É engraçado como aquele bebezinho que dá pra pegar no colo agora, saiu de dentro da barriga!
Nascimento, coisa impressionante. De duas células, faz-se uma que vai se modificiando, crescendo e vira uma vida. Nove meses de espera, e nasce então um indivíduo. Bravo, bravíssimo. A natureza cumpre com perfeição aquilo que prometeu. E agora? O que fazer com esse serzinho que está pra fora da barriga, mas dentro do mundo? Como agir, como educar, como repreender, como amar? Vamos partir do pressuposto que o amor deve estar ali, mas como amar? De que forma amar? Amar pra que não sufoque, amar pra que não seja demais, amar de forma que se possa permitir o outro, amar pra que se possa proibir. Sim, é preciso amar, pra que se possa sustentar a proibição, dizer "não" vinte vezes, sabendo que aquilo, é o melhor. De fato, chego à conclusão de que o mais fácil dessa história toda é carregar o bebê na barriga, porque depois que ele sai, é que as coisas podem ficar muito sérias.
O lugar que um bebê ocupa, depende de muitas coisas, mesmo antes de ele nascer. Essa mãe brincou de boneca, sonhou em ter filhos, sonhou em ser mãe? É, antes de ser objeto de desejo, essa criança tem que ter sido objeto da fantasia. A fantasia de carregar um bebê no colo, de trocar a fralda, de dar de mamar, de ver o seu sorriso. PErcebe como o bebê existe antes de tudo, na imaginação? E se não for assim, sinto em lhe dizer, essa pessoa, que já foi um bebê, terá mais problemas do que se gostaria. Vi ainda hoje, fotos de um bebê que foi encontrado enterrado vivo, e que sobreviveu. Sorte a dele. Sorte de ter sido enterrado vivo e bebê, teve a chance de ser descoberto, pois se dependesse da mãe, talvez ela o enterrase sobretudo,m não apenas vivo, mas "em vida". Massacrando o filho, dando a ele o lugar que na verdade ela o tinha destinado: o lugar de não existir. Não existir em vida, é muito pior do que não existir em morte. Traz muito mais consequências, é muito mais tirano do que não existir na carne. E ele vai pagar com a vida o preço dessa existência. É claro que não existe uma fórmula mágica e secreta para a criação de filhos, (queixa de muitos pais), "filhos não vem com manual de instrução", é claro que não vem, e isso já é muita coisa. Se viesse com um manual, tudo ficaria muito técnicom muito certo, muito plástico; e isso é tudo que não devemos ser: um robô, sabe porquê? Porque o robô só faz tudo aquilo que o mandam fazer. E isso, é pouco demais. Pouco demais pra alguém que é sujeito, e que pode por si só, assinar a própria carta e não só selar e colocar no correio pra alguém.
Tudo é uma questão de lugar. Não o lugar geográfico, aqui ou na África, na Europa ou nos Estados Unidos, mas de que lugar me foi dado, que lugar queriam que eu ocupasse, o que esperavam de mim? Nem que seja pra depois, a gente dar um ": tchauzinho" bem categórico a isso que esperavam, e superar não o que os outros desejam, mas aquilo que eu desejo de mim mesmo.
E que a gente possa falar assim pros nossos filhos: "você é a boneca dos meus sonhosm o meu brinquedo do jardim da infância"; "o que eu sonhei", e porque sonhei, agora é capaz de sonhar, construir, viver. "É o meu brinquedinhom, mas brinquedinho vivo, que criou asas, e voou".
Nascimento, coisa impressionante. De duas células, faz-se uma que vai se modificiando, crescendo e vira uma vida. Nove meses de espera, e nasce então um indivíduo. Bravo, bravíssimo. A natureza cumpre com perfeição aquilo que prometeu. E agora? O que fazer com esse serzinho que está pra fora da barriga, mas dentro do mundo? Como agir, como educar, como repreender, como amar? Vamos partir do pressuposto que o amor deve estar ali, mas como amar? De que forma amar? Amar pra que não sufoque, amar pra que não seja demais, amar de forma que se possa permitir o outro, amar pra que se possa proibir. Sim, é preciso amar, pra que se possa sustentar a proibição, dizer "não" vinte vezes, sabendo que aquilo, é o melhor. De fato, chego à conclusão de que o mais fácil dessa história toda é carregar o bebê na barriga, porque depois que ele sai, é que as coisas podem ficar muito sérias.
O lugar que um bebê ocupa, depende de muitas coisas, mesmo antes de ele nascer. Essa mãe brincou de boneca, sonhou em ter filhos, sonhou em ser mãe? É, antes de ser objeto de desejo, essa criança tem que ter sido objeto da fantasia. A fantasia de carregar um bebê no colo, de trocar a fralda, de dar de mamar, de ver o seu sorriso. PErcebe como o bebê existe antes de tudo, na imaginação? E se não for assim, sinto em lhe dizer, essa pessoa, que já foi um bebê, terá mais problemas do que se gostaria. Vi ainda hoje, fotos de um bebê que foi encontrado enterrado vivo, e que sobreviveu. Sorte a dele. Sorte de ter sido enterrado vivo e bebê, teve a chance de ser descoberto, pois se dependesse da mãe, talvez ela o enterrase sobretudo,m não apenas vivo, mas "em vida". Massacrando o filho, dando a ele o lugar que na verdade ela o tinha destinado: o lugar de não existir. Não existir em vida, é muito pior do que não existir em morte. Traz muito mais consequências, é muito mais tirano do que não existir na carne. E ele vai pagar com a vida o preço dessa existência. É claro que não existe uma fórmula mágica e secreta para a criação de filhos, (queixa de muitos pais), "filhos não vem com manual de instrução", é claro que não vem, e isso já é muita coisa. Se viesse com um manual, tudo ficaria muito técnicom muito certo, muito plástico; e isso é tudo que não devemos ser: um robô, sabe porquê? Porque o robô só faz tudo aquilo que o mandam fazer. E isso, é pouco demais. Pouco demais pra alguém que é sujeito, e que pode por si só, assinar a própria carta e não só selar e colocar no correio pra alguém.
Tudo é uma questão de lugar. Não o lugar geográfico, aqui ou na África, na Europa ou nos Estados Unidos, mas de que lugar me foi dado, que lugar queriam que eu ocupasse, o que esperavam de mim? Nem que seja pra depois, a gente dar um ": tchauzinho" bem categórico a isso que esperavam, e superar não o que os outros desejam, mas aquilo que eu desejo de mim mesmo.
E que a gente possa falar assim pros nossos filhos: "você é a boneca dos meus sonhosm o meu brinquedo do jardim da infância"; "o que eu sonhei", e porque sonhei, agora é capaz de sonhar, construir, viver. "É o meu brinquedinhom, mas brinquedinho vivo, que criou asas, e voou".
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
CARNA AVAL
Todo ano, é a mesma coisa. A famosa frase: “o ano só começa depois do carnaval”. O que será isso? Será que se o carnaval fosse em julho, só começaria então, depois disso?
Afinal de contas, o que é isso que tem todo ano e parece que exorcisa o que há dentro de nós, pra daí a gente começar a pegar no batente?
Interessante a origem da palavra carnaval, ela se refere a um “adeus à carne”, como se a gente pudesse no carnaval, abusar dos prazeres da carne, é o aval para a carne e depois desse abuso pra daí se despedir e poder usar mais a cabeça. Qualquer tentativa antes disso termina em: “ah! Deixa disso, afinal é carnaval!”.
Carne, corpo. Esse é o segredo do carnaval, e o que o faz dele muito mais popular do que qualquer retiro espiritual. Famoso no mundo todo, festejado, quase sinônimo de liberdade, de lançar fora o recalque. Ah, aí é que está a questão. O corpo é o reduto das pulsões, onde tudo acontece, onde o cérebro comanda, manda e desmanda, onde as sensações acontecem, onde a gente somatiza, onde a gente sente. É físico e ponto final.
Não é a toa que a paixão é sempre idealizada. O que ela traz? Frio na barriga, coração batendo forte, rubor, pernas bambas. E todo mundo corre atrás dela. No carnaval então, mais ainda. Corpos a mostra, academias em alta, não há período mais concorrido pra se fazer tatuagens. Corpo é corpo. E as sensações que a gente sente nele, são registradas e jamais esquecidas. Estudos são realizados em prol desse fenômeno, pesquisas ao redor do mundo, milhões de dólares investidos pra saber o que acontece com a gente.
O que dizer da pele? Maior órgão do corpo humano, cheio de neurônios sensitivos que fazem perceber a menor diferença se algo encosta, e estamos falando de algo como uma pluma.
Sim, o carnaval é esse tempo de deixar pra lá as preocupações, de se envolver consigo mesmo e com os amigos e de deixar o corpo falar mais alto. Nessa época, os julgamentos são menos acentuados, e é uma brechinha pra poder falar: “ah, xô recalque, é carnaval!”.
O corpo, antes de mais nada, vem da pura necessidade, do corpo biológico, de um corpo que precisa ser cuidado quando bebê, mas que se transforma em corpo erógeno, a partir do que vem além do cuidado, um corpo inserido na linguagem, na memória, na significação e na representação que ele adquire, se adquire.
Buscamos loucamente o prazer. Estamos todo o tempo em busca de algo que nos traga mais do que o simples sobreviver, coisa que fazemos talvez durante todo o ano, mas que no carnaval, alguns de nós se permite ir um pouco além, e deixar uma marquinha que possa ser lembrada através do tempo e que possa fazer a diferença. O fato é, por que precisamos do aval de alguém para nos permitir extrapolar?
Pura neurose, regida pelo princípio do Superego. Estância que dá o aval ou não pra que a gente possa extravasar e jogar tudo pro ar, parafraseando a carnavalesca Cláudia Leite. Sentir com tudo o que o corpo possa permitir, sentir o prazer, ir além, chegar ao limite.
Puro sonho de carnaval.
Afinal de contas, o que é isso que tem todo ano e parece que exorcisa o que há dentro de nós, pra daí a gente começar a pegar no batente?
Interessante a origem da palavra carnaval, ela se refere a um “adeus à carne”, como se a gente pudesse no carnaval, abusar dos prazeres da carne, é o aval para a carne e depois desse abuso pra daí se despedir e poder usar mais a cabeça. Qualquer tentativa antes disso termina em: “ah! Deixa disso, afinal é carnaval!”.
Carne, corpo. Esse é o segredo do carnaval, e o que o faz dele muito mais popular do que qualquer retiro espiritual. Famoso no mundo todo, festejado, quase sinônimo de liberdade, de lançar fora o recalque. Ah, aí é que está a questão. O corpo é o reduto das pulsões, onde tudo acontece, onde o cérebro comanda, manda e desmanda, onde as sensações acontecem, onde a gente somatiza, onde a gente sente. É físico e ponto final.
Não é a toa que a paixão é sempre idealizada. O que ela traz? Frio na barriga, coração batendo forte, rubor, pernas bambas. E todo mundo corre atrás dela. No carnaval então, mais ainda. Corpos a mostra, academias em alta, não há período mais concorrido pra se fazer tatuagens. Corpo é corpo. E as sensações que a gente sente nele, são registradas e jamais esquecidas. Estudos são realizados em prol desse fenômeno, pesquisas ao redor do mundo, milhões de dólares investidos pra saber o que acontece com a gente.
O que dizer da pele? Maior órgão do corpo humano, cheio de neurônios sensitivos que fazem perceber a menor diferença se algo encosta, e estamos falando de algo como uma pluma.
Sim, o carnaval é esse tempo de deixar pra lá as preocupações, de se envolver consigo mesmo e com os amigos e de deixar o corpo falar mais alto. Nessa época, os julgamentos são menos acentuados, e é uma brechinha pra poder falar: “ah, xô recalque, é carnaval!”.
O corpo, antes de mais nada, vem da pura necessidade, do corpo biológico, de um corpo que precisa ser cuidado quando bebê, mas que se transforma em corpo erógeno, a partir do que vem além do cuidado, um corpo inserido na linguagem, na memória, na significação e na representação que ele adquire, se adquire.
Buscamos loucamente o prazer. Estamos todo o tempo em busca de algo que nos traga mais do que o simples sobreviver, coisa que fazemos talvez durante todo o ano, mas que no carnaval, alguns de nós se permite ir um pouco além, e deixar uma marquinha que possa ser lembrada através do tempo e que possa fazer a diferença. O fato é, por que precisamos do aval de alguém para nos permitir extrapolar?
Pura neurose, regida pelo princípio do Superego. Estância que dá o aval ou não pra que a gente possa extravasar e jogar tudo pro ar, parafraseando a carnavalesca Cláudia Leite. Sentir com tudo o que o corpo possa permitir, sentir o prazer, ir além, chegar ao limite.
Puro sonho de carnaval.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
SOLIDÃO
Quem tem medo da solidão, solidão, solidão?
Quem tem medo da solidão? Lá lá lá lá lá lá.
Uma vez li que a solidão é perigosa, mas que não é contagiosa.
Antes fosse.
Uma vez que há contágio, quer dizer que é preciso contato, logo, não se está sozinho.
E quem tem medo dela? Será que alguém tem?
Todos temos medo da solidão. Todos. Uns mais, outros menos; mas todos nós, em algum grau, sofremos deste mal.
Uns, preferem se submeter a um relacionamento desgastado pra não se sentirem sozinhos... outros, combatem a solidão com uma porção de “amigos”, amigos que muitas vezes só servem pra sugar o que a gente tem, mas que com eles, tem barulho e acabo me convencendo de que não estou só...
Tem gente que tenta combater a solidão com a TV, e muitas reflito sobre esse papel que a TV tem de nos tirar um pouquinho daquela realidade que muitas vezes está tão sofrida e solitária. Aliás, já parou pra pensar que na prisão, quando querem castigar mais severamente algum preso eles o mandam para a “solitária”? Estar sem ninguém, não poder ser ouvido nem ouvir. Que castigo cruel. Pré-requisito pra loucura.
E que solidão é essa que se sente mesmo com a casa cheia? Que solidão é essa que dói no peito com o quarto fechado? É o silêncio que dói?
Outra vez, escutei uma música: “desilusão, desilusão... danço eu, dança você, na dança da solidão”....
Será que é a desilusão que traz a solidão? Quando me desiludo com alguém, aí a companhia perde a graça, e então, fico sozinho? Então quem sabe, a solidão seja uma escolha. Não existe um amigo que seja perfeito, mas só porque ele tem um defeitinho, ou defeitão, às vezes escolho perder o contato. E será que eu não posso me relacionar com ele apesar dos defeitos? Afinal, eu também os tenho.
Freud falou, há algum tempo sobre a dor do desamparo. Primeiro, somos jogados no mundo sem pedir para estar aqui, estamos submissos à vontade do Outro. Estar à mercê, estar sozinho nessa enxurrada de sentimentos, de fato, é muita falta de amparo pra humanos tão humanos, meros mortais como nós. Des – amparo, sentido na carne.
Já dizia Clarice Linspector:
“Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo”.
É verdade, a gente não sabe mesmo lidar com a solidão. E a gente implora, como implorou Clarice, pra que mesmo a solidão, nos faça companhia.
De fato, a solidão não é contagiosa, antes fosse.
Quem tem medo da solidão? Lá lá lá lá lá lá.
Uma vez li que a solidão é perigosa, mas que não é contagiosa.
Antes fosse.
Uma vez que há contágio, quer dizer que é preciso contato, logo, não se está sozinho.
E quem tem medo dela? Será que alguém tem?
Todos temos medo da solidão. Todos. Uns mais, outros menos; mas todos nós, em algum grau, sofremos deste mal.
Uns, preferem se submeter a um relacionamento desgastado pra não se sentirem sozinhos... outros, combatem a solidão com uma porção de “amigos”, amigos que muitas vezes só servem pra sugar o que a gente tem, mas que com eles, tem barulho e acabo me convencendo de que não estou só...
Tem gente que tenta combater a solidão com a TV, e muitas reflito sobre esse papel que a TV tem de nos tirar um pouquinho daquela realidade que muitas vezes está tão sofrida e solitária. Aliás, já parou pra pensar que na prisão, quando querem castigar mais severamente algum preso eles o mandam para a “solitária”? Estar sem ninguém, não poder ser ouvido nem ouvir. Que castigo cruel. Pré-requisito pra loucura.
E que solidão é essa que se sente mesmo com a casa cheia? Que solidão é essa que dói no peito com o quarto fechado? É o silêncio que dói?
Outra vez, escutei uma música: “desilusão, desilusão... danço eu, dança você, na dança da solidão”....
Será que é a desilusão que traz a solidão? Quando me desiludo com alguém, aí a companhia perde a graça, e então, fico sozinho? Então quem sabe, a solidão seja uma escolha. Não existe um amigo que seja perfeito, mas só porque ele tem um defeitinho, ou defeitão, às vezes escolho perder o contato. E será que eu não posso me relacionar com ele apesar dos defeitos? Afinal, eu também os tenho.
Freud falou, há algum tempo sobre a dor do desamparo. Primeiro, somos jogados no mundo sem pedir para estar aqui, estamos submissos à vontade do Outro. Estar à mercê, estar sozinho nessa enxurrada de sentimentos, de fato, é muita falta de amparo pra humanos tão humanos, meros mortais como nós. Des – amparo, sentido na carne.
Já dizia Clarice Linspector:
“Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo”.
É verdade, a gente não sabe mesmo lidar com a solidão. E a gente implora, como implorou Clarice, pra que mesmo a solidão, nos faça companhia.
De fato, a solidão não é contagiosa, antes fosse.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
VOCÊ TEM FOME DE QUE? A FOME DA FALTA
A falta deu o que faltar... quer dizer, o que falar.
Na última coluna, ao abordar a "insaciável insaciabilidade do ser", comentários não faltaram pra falar da falta.
O que falta? Por que falta? Falta do que? Falta ter ou falta não ter?
Pois então, frente a todas estas perguntas, a devolvo: "o que é essa falta que não cessa frente ao objeto que eu escolhi para tamponar o que falta em mim?".
Os bebês de colo se pudessem falar horas depois que nascem, contariam histórias enlouquecedoras, tenho certeza. Primeiro, o bebê nasce. Logo que conhece as luzes do mundo externo, lhe é dado o seio; a mãe lhe ordena: "-mame!". Imperativo, ordem de um outro grandão. Enquanto ele ainda não sabe o que é boca, nem seio, numa tentativa meio cega e inteiramente tumultuada, descobre que é a boca que deve envolver o seio. Ok! Muito bem! Mamãe, esse outro grandão sorri pra mim e sinto que ela fica feliz.
- "Cumpri minha missão". pensa o bebê. Porém, assim que pego o jeito da mamada, sou arrancado do peito e começam a me socar as costas, o que é isso? Sei lá, um mal-estar, uma pressão, algo estranho, esquisito (bom, até agora, nada tem sido menos do que esquisito), até que um arzinho sai da minha boca. Opa! Mamãe, o mesmo ser que me coloca o peito na boca e me soca nas costas deu um sorriso. Acho que ela está feliz de novo! Não bastasse todo esse ritual, agora ela quer que eu durma, que eu acorde que eu dê um sorrisinho, que eu faça xixi, que eu não chore, que eu durma de novo, que eu acorde, que eu mame no peito, que eu me entretenha com o bichinho, que eu durma no bercinho que eu tome o suquinho, que eu engatinhem que eu dê os primeiros passos, que do bê-a-bá eu passe para as palavras, que eu me forme, que eu tenha sucesso, seja rico, trabalhador, não respondão, cativante, estudioso, responsável, educado, grato e feliz! Só isso.
Com tanta demanda, só enlouquecendo, ou se estruturando de uma vez.
É todo esse desejo da mãe, que no momento em que é preenchido, ela muda de idéia, e fala: "agora não é mais isso", que do dormir passa para o acordar, que do comer passa para o brincar, que do engatinhar passa para o andar, é toda essa falta NA MÃE; falta, porque ela demanda o tempo todo que seja preenchida e que o bebê tenta preencher, que dá a estruturação necessária pra que ele possa sim, mamar, dormir, acordar, brincar, não chorar (e chorar de vez em quando também), engatinhar, andar, falar, estudar, se formar, trabalhar, e tentar... ser feliz.
É o desejo desse Outro Grandão que me estrutura e que me constitui. E é sempre esse "tem algo faltando", o responsável por permitir que eu tente preencher e que não preencha de verdade, porque se for completo e pleno demais, não sobra espaço pra faltar de novo e fazer tudo circular.
A vida deve ser um mau encontro.
Aquele que sempre deixa a gente com sensação de quero mais, o que a gente acaba por perceber que de mau, não tem nada. É o mau / bom
encontro.
Porque se for demais, vira overdose, e tudo que é over, é dose!
Na última coluna, ao abordar a "insaciável insaciabilidade do ser", comentários não faltaram pra falar da falta.
O que falta? Por que falta? Falta do que? Falta ter ou falta não ter?
Pois então, frente a todas estas perguntas, a devolvo: "o que é essa falta que não cessa frente ao objeto que eu escolhi para tamponar o que falta em mim?".
Os bebês de colo se pudessem falar horas depois que nascem, contariam histórias enlouquecedoras, tenho certeza. Primeiro, o bebê nasce. Logo que conhece as luzes do mundo externo, lhe é dado o seio; a mãe lhe ordena: "-mame!". Imperativo, ordem de um outro grandão. Enquanto ele ainda não sabe o que é boca, nem seio, numa tentativa meio cega e inteiramente tumultuada, descobre que é a boca que deve envolver o seio. Ok! Muito bem! Mamãe, esse outro grandão sorri pra mim e sinto que ela fica feliz.
- "Cumpri minha missão". pensa o bebê. Porém, assim que pego o jeito da mamada, sou arrancado do peito e começam a me socar as costas, o que é isso? Sei lá, um mal-estar, uma pressão, algo estranho, esquisito (bom, até agora, nada tem sido menos do que esquisito), até que um arzinho sai da minha boca. Opa! Mamãe, o mesmo ser que me coloca o peito na boca e me soca nas costas deu um sorriso. Acho que ela está feliz de novo! Não bastasse todo esse ritual, agora ela quer que eu durma, que eu acorde que eu dê um sorrisinho, que eu faça xixi, que eu não chore, que eu durma de novo, que eu acorde, que eu mame no peito, que eu me entretenha com o bichinho, que eu durma no bercinho que eu tome o suquinho, que eu engatinhem que eu dê os primeiros passos, que do bê-a-bá eu passe para as palavras, que eu me forme, que eu tenha sucesso, seja rico, trabalhador, não respondão, cativante, estudioso, responsável, educado, grato e feliz! Só isso.
Com tanta demanda, só enlouquecendo, ou se estruturando de uma vez.
É todo esse desejo da mãe, que no momento em que é preenchido, ela muda de idéia, e fala: "agora não é mais isso", que do dormir passa para o acordar, que do comer passa para o brincar, que do engatinhar passa para o andar, é toda essa falta NA MÃE; falta, porque ela demanda o tempo todo que seja preenchida e que o bebê tenta preencher, que dá a estruturação necessária pra que ele possa sim, mamar, dormir, acordar, brincar, não chorar (e chorar de vez em quando também), engatinhar, andar, falar, estudar, se formar, trabalhar, e tentar... ser feliz.
É o desejo desse Outro Grandão que me estrutura e que me constitui. E é sempre esse "tem algo faltando", o responsável por permitir que eu tente preencher e que não preencha de verdade, porque se for completo e pleno demais, não sobra espaço pra faltar de novo e fazer tudo circular.
A vida deve ser um mau encontro.
Aquele que sempre deixa a gente com sensação de quero mais, o que a gente acaba por perceber que de mau, não tem nada. É o mau / bom
encontro.
Porque se for demais, vira overdose, e tudo que é over, é dose!
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
VOCÊ TEM FOME DE QUE?
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
Se tudo o que é comestível, é comida...
Por que que eu tenho vontade de comer certas coisas e outras não?
Se bebida, é tudo que é líquido, por que eu tenho vontade de alguns, e de outros não?
Como diz a música dos Titãs... a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte, a gente não quer só... a gente não quer só... a gente não quer só...
A gente quer isso, e mais um monte de coisa.
Quando tiver tal coisa, aí sim, tudo será perfeito... quando comprar, quando tiver, quando alcançar... mas a gente compra e quer mais... a gente tem, e quer mais... a gente alcança e quer mais...
A gente não quer só, a gente quer mais.
Essa insaciável insaciabilidade do ser... essa insaciável vontade de ter, e depois que agente temm, percebe que não é tudo.
O que move e o que eu tenho ou o que me falta? E que falta é essa que jamais cessa?
O que é isso que faz laço em alguns objetos, contorna, envolve e depois deixa cair?
Uma vez escutei uma pessoa respondendo à pergunta de um vendedor de loteria: Ele diz:
- Quer comprar, moça? , e ela então responde,
- Não, moço... muito obrigada! Já pensou se eu ganho?, e dava risada.
Ora, se o medo é de ganhar, então o que se teme não é a pobreza, mas a fortuna. É o cheio, não o vazio; a commpletude, não a falta.
A gente não quer só diznheiro, a gente quer dinheiro e felicidade...
"A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade"... será mesmo? será mesmo qu ea gente quer o inteiro? Será que a vida toda a gente não sai buscando metades pra preencher? Pra com...pletar?
E quando a gente completa?
Aí a gente quer mais metade, pra se deixar fazer inteiro novamente.
Não vou atrás do que já tenho, vou atrás do que não tenho, porque aí as coisas fazem sentido.
A gente tem sede da falta, e não do completo. Se nada me falta, fico pleno, e é isso que eu temo, porque nada é mais pleno do que a morte.
Você tem fome de que?
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
Se tudo o que é comestível, é comida...
Por que que eu tenho vontade de comer certas coisas e outras não?
Se bebida, é tudo que é líquido, por que eu tenho vontade de alguns, e de outros não?
Como diz a música dos Titãs... a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte, a gente não quer só... a gente não quer só... a gente não quer só...
A gente quer isso, e mais um monte de coisa.
Quando tiver tal coisa, aí sim, tudo será perfeito... quando comprar, quando tiver, quando alcançar... mas a gente compra e quer mais... a gente tem, e quer mais... a gente alcança e quer mais...
A gente não quer só, a gente quer mais.
Essa insaciável insaciabilidade do ser... essa insaciável vontade de ter, e depois que agente temm, percebe que não é tudo.
O que move e o que eu tenho ou o que me falta? E que falta é essa que jamais cessa?
O que é isso que faz laço em alguns objetos, contorna, envolve e depois deixa cair?
Uma vez escutei uma pessoa respondendo à pergunta de um vendedor de loteria: Ele diz:
- Quer comprar, moça? , e ela então responde,
- Não, moço... muito obrigada! Já pensou se eu ganho?, e dava risada.
Ora, se o medo é de ganhar, então o que se teme não é a pobreza, mas a fortuna. É o cheio, não o vazio; a commpletude, não a falta.
A gente não quer só diznheiro, a gente quer dinheiro e felicidade...
"A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade"... será mesmo? será mesmo qu ea gente quer o inteiro? Será que a vida toda a gente não sai buscando metades pra preencher? Pra com...pletar?
E quando a gente completa?
Aí a gente quer mais metade, pra se deixar fazer inteiro novamente.
Não vou atrás do que já tenho, vou atrás do que não tenho, porque aí as coisas fazem sentido.
A gente tem sede da falta, e não do completo. Se nada me falta, fico pleno, e é isso que eu temo, porque nada é mais pleno do que a morte.
Você tem fome de que?
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